Por que o resultado da eleição nos EUA foi ruim para Trump!

Por que o resultado da eleição nos EUA foi ruim para Trump! - Marcos Doniseti! 

Donald Trump ficou furioso com os resultados das eleições nos EUA, que foram bem piores para ele e para os Republicanos do que se esperava. Democratas conquistaram bons resultados, quando se compara com aquilo que as pesquisas indicavam. E tudo indica que foi o radicalismo do discurso dos aliados de Trump que levou a resultados tão ruins.

Segundo o jornalista Jim Acosta, da CNN dos EUA, o ex-Presidente Donald Trump ficou furioso com os resultados das eleições.

Acosta escreveu o seguinte em sua conta no Twitter:

“Trump está lívido” e “gritando com todo mundo”, depois dos resultados decepcionantes de meio de mandato da noite passada para o GOP, de acordo com um assessor de Trump. O conselheiro passou a criticar os candidatos escolhidos a dedo pelo ex-presidente: “todos eram maus candidatos”. “Os candidatos importam”, disse o conselheiro.

Com base nos resultados que foram divulgados até o momento pode-se dizer, sem sombra de dúvidas, que Trump e seus seguidores dentro do Partido Republicano saíram enfraquecidos dessa eleição. E isso explica o motivo de Trump ter ficado tão furioso com os resultados.

Afinal, se com a situação econômica ruim que os EUA enfrentam, neste momento, com a maior taxa de inflação anual (8,2%) das últimas décadas, os Republicanos não conseguiram nocautear e derrotar, de forma decisiva, aos Democratas, então pode-se questionar o que acontecerá daqui a 2 anos, quando a inflação já deverá estar em um patamar bem inferior ao atual?

Afinal, a taxa de desemprego atual é baixa (é de 3,7%). Então, se a inflação diminuir até 2024, as chances de Biden conseguir se reeleger irão aumentar bastante.

Alguém pode perguntar como o resultado da eleição foi tão ruim para Trump se, afinal, os Republicanos passaram a ter maioria na Câmara dos Deputados e, pelo menos, terão uma bancada igual à dos Democratas no Senado (50 senadores para cada um).

Obs: Ontem mesmo, no dia da eleição, escrevi e publiquei aqui um texto (ver link abaixo) no qual dizia que parecia que os Democratas estavam recuperando terreno na reta final da campanha e que a disputa estava ficando acirrada. E foi exatamente o que aconteceu.

Bem, vamos lá!

1- Republicanos que não são trumpistas se deram bem!

Muitos dos Republicanos que foram eleitos não seguem a liderança de Trump, como é o caso de Brian Kemp e Chris Sununu, governadores reeleitos da Georgia e de New Hampshire.

Chris Sununu, por exemplo, costuma dizer que o Trump é louco e o Brian Kemp foi o governador que se recusou a fraudar a eleição na Georgia, em 2020, para beneficiar Trump. E Kemp agiu desta maneira mesmo tendo sido fortemente pressionado por Trump, que telefonou para Kemp exigindo que ele 'arranjasse' 11.780 votos, o que lhe permitiria derrotar Biden no estado.

Esses bons resultados de Republicanos que não seguem a liderança de Trump aconteceu, também, na eleição para o Senado e para a Câmara dos Representantes (Deputados).

Desta maneira, em vários estados importantes, os candidatos trumpistas do Partido Republicano também tiveram resultados piores do que o esperado, pois o radicalismo político e ideológico de Trump acaba afastando muitos eleitores moderados dos Republicanos, que ou deixam de votar ou preferem até votar em algum candidato Democrata.

Isso está acontecendo, por exemplo, no Arizona, estado importante, e tradicionalmente Republicano, onde os Democratas deverão vencer a eleição para o Senado (com Mark Kelly) e para o governo do estado (com Katie Hobbs).

Assim, Mark Kelly lidera a apuração, com 51,4% dos votos (apurados 69,3%), enquanto que Katie Hobbs também lidera, com 50,3% dos votos (apurados 69%).

E mesmo onde um candidato ligado a Trump foi vitorioso, isso aconteceu com o mesmo obtendo uma votação bem inferior ao de outro Republicano de perfil mais moderado e que não segue a liderança de Trump.

Em Ohio, por exemplo, o candidato Republicano ao senado (JD Vance) venceu a eleição com 53,3% dos votos (apurados 97,1%), enquanto que o candidato Republicano a governador, que não segue Trump, Mike DeWine, foi reeleito com 62,8% dos votos (apurados 97%).

2- Divisão do Congresso mostra equilíbrio!

Enquanto isso, no Senado a tendência é que tenhamos um empate, com cada partido mantendo as suas atuais bancadas de 50 senadores, o que dá a maioria aos Democratas, na prática, porque nos EUA quem ocupa a Vice-Presidência do país (que é a Kamala Harris) tem o voto de minerva, que desempata as  votações.

E na Câmara dos Deputados, na qual os Republicanos imaginavam que conquistariam muito mais vagas do que os Democratas, a diferença de bancada entre os dois partidos será pequena. Dificilmente a vantagem dos Republicanos será superior a 10 deputados.

E muitos dos deputados, senadores e governadores que foram eleitos pelos Republicanos não simpatizam com o Trump (ver item anterior), preferindo um candidato de perfil mais moderado para enfrentar Biden (ou outro candidato Democrata) em 2024.

3- Fortalecimento de Ron DeSanctis!

Essa eleição também deixou claro que já existe um nome dentro do Partido Republicano que poderá unificar essas lideranças mais moderadas e que poderá desafiar Trump pela candidatura do partido em 2024, que é o do governador reeleito da Flórida, Ron DeSanctis.

Historicamente, as eleições na Flórida costumam ser muito mais acirradas.

Porém, DeSanctis obteve uma vitória fácil no estado, conquistando 59,4% dos votos. E tudo indica que isso aconteceu pelo fato de que muitos eleitores independentes e até democratas moderados devem ter votado nele justamente para enfraquecer Trump.

Assim, ao conquistar uma vitória tão consagradora, DeSanctis terá forças para enfrentar e derrotar Trump com o objetivo de conquistar a candidatura presidencial dos Republicanos em 2024.

Portanto, os resultados dessa eleição foram ruins para Trump, por vários motivos!

1- Muitos dos Republicanos que foram eleitos não seguem a sua liderança. Um deles, Chris Sununu, até diz que Trump é louco;

2- O seu maior rival pela candidatura presidencial, em 2024, que é Ron DeSanctis, obteve uma vitória consagradora ao se reeleger governador da Flórica, que é um estado fundamental para qualquer candidato Republicano que queria se eleger governador;

3- Muitos Republicanos trumpistas foram derrotados ou, então, conquistaram votações bem inferiores aos de outros Republicanos moderados e que não seguem a liderança de Trump;

4- Os resultados conquistados pelos Democratas foram bem melhores do que todos estavam prevendo, tanto nas disputas para os governos estaduais, quanto para o Senado e a Câmara dos Deputados.

Assim, a vantagem Republicana na Câmara dos Deputados será bem inferior ao que se previa (ficará entre 10 e 15 deputados). Segundo o 'Real Clear Politics', até o momento os Democratas perderam apenas 3 cadeiras na Câmara dos Representantes.

O Senado deverá continuar empatado, com 50 legisladores para cada partido, o que beneficia os Democratas, pois a Vice Kamala Harris tem o voto de minerva, para desempatar votações. Os estados com resultados não finalizados são 4: Arizona, Nevada, Georgia e Wisconsin. 

Tudo indica que Arizona ficará com o Democrata Mark Kelly (Democrata), enquanto que o Nevada e Wisconsin ficarão com Republicanos (Adam Laxalt e Ron Johnson, respectivamente). Já a eleição na Georgia tem o Democrata Raphael Warnock liderando, com 49,4% dos votos, mas a eleição deverá ir para o segundo turno, pois nenhum dos candidatos conquistou metade mais um dos votos, o que é exigido pela legislação do estado. 

Nas disputas para governos estaduais os Democratas derrotaram os Republicanos em 2 estados nos quais estes governavam, que foram Maryland e Massachusetts. 

A questão é: Por que isso aconteceu? Por que o resultado da eleição foi pior, para Trump e para os Republicanos, do que as pesquisas previam?

Ainda é cedo para se ter uma resposta definitiva, mas tudo indica que os motivos principais disso foram três:

1) Defesa da Democracia!

Na reta final da eleição os Democratas (incluindo o próprio Joe Biden) usaram muito do discurso da defesa da Democracia, mostrando que a vitória de candidatos Republicanos ligados a Trump representava uma séria ameaça à manutenção dos EUA como uma Democracia Liberal.

E tudo indica que esse discurso funcionou.

Pesquisas feitas nos últimos dias de campanha mostravam que muitos eleitores estavam preocupados com as ameaças dos Trumpistas à Democracia, inclusive com muitos destes candidatos recusando-se a aceitar os resultados da eleição de 2020. São os chamados Negacionistas Eleitorais.

Isso ajuda a explicar, também, a votação superior dos Republicanos não trumpistas quando comparada com a votação inferior dos seguidores de Trump, como aconteceu em Ohio, por exemplo.

2) Mobilização dos Jovens!

Os jovens dos EUA são simpatizantes do Partido Democrata, que sempre conquista votações bem superiores à dos Republicanos entre eles.

E um aspecto interessante destes jovens é que, além de serem Democratas, eles tem um perfil muito mais Progressista do que o do eleitorado em geral e, também, são pragmáticos.

Assim, esses jovens não deixam de votar porque não simpatizariam com algum candidato em particular.

Se eles percebem que, do outro lado, há candidaturas extremistas (trumpistas), de radicais de Direita que não respeitam as regras da Democracia Liberal, então eles se mobilizam no sentido de fazer com que o máximo de eleitores participe das eleições e vote nos candidatos comprometidos com a defeda da Democracia.

3) Questão do direito ao aborto!

A decisão da Suprema Corte de, no início deste ano, retirar o aborto como um direito constitucional fez com que muitas pessoas (jovens, mulheres, etc) se mobilizassem para estas eleições no sentido de eleger candidaturas que se comprometessem com a defesa deste direito (o que é muito diferente de ser 'a favor do aborto').

A importância desse tema para os eleitores somente perdia, nas pesquisas, para a questão da economia, em função do fato de que os EUA enfrentam, atualmente, a maior taxa de inflação das últimas décadas.

4) Cansaço com o radicalismo de Trump e seguidores!

Portanto, os resultados destas eleições foram ruins para os Republicanos, que esperavam por uma grande vitória, que não aconteceu. 

Eles foram ainda piores para Trump, que viu vários dos seus aliados serem derrotados ou conquistarem votações inferiores ao esperado, e foram boas para os Democratas, que temiam por uma catástrofe, que não aconteceu.

E ainda tivemos o fortalecimento, dentro do Partido Republicano, de líderes e nomes não trumpistas, o que indica que Trump não terá vida fácil na sua tentativa de ser o candidato presidencial dos Republicanos em 2024.

Tudo aponta para o fato de que há um cansaço nos EUA com os discursos e posturas radicais e extremistas que são adotados por parte de Trump e de seus aliados e seguidores. 

5) Mesmo com inflação alta, Biden sai fortalecido da eleição!

E assim podemos concluir que Biden ganhou mais dois anos para tentar reduzir a inflação, que é o principal ponto fraco do seu governo até o momento. E se ele conseguir isso, e não sofrer nenhuma grande derrota no plano internacional, então ele terá grandes chances de conseguir a reeleição.

Links:

Eleições nos EUA: Democratas parecem estar crescendo na reta final da campanha e disputa fica acirrada: 

https://temposfraturadosememoria.blogspot.com/2022/11/eleicoes-nos-eua-democratas-parecem.html

Resultados da eleição nos EUA:

https://www.washingtonpost.com/?reload=true&_=1668005148716

A onda Republicana não aconteceu:

https://www.politico.com/news/2022/11/09/2022-election-results-analysis-and-takeaways-00065878

Jim Acosta:

https://twitter.com/Acosta/status/1590341634709131265


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