Emmanuel Todd: “A Europa desempenhou seu papel em atiçar as chamas do horror militar na Ucrânia. Agora, este é um conflito entre os EUA e a Rússia”!

Emmanuel Todd: “A Europa desempenhou seu papel em atiçar as chamas do horror militar na Ucrânia. Agora, este é um conflito entre os EUA e a Rússia”!

'A derrota do Ocidente', livro de Emmanuel Todd.


Emmanuel Todd. Crédito: reprodução International Affairs.

13 de Março de 2023

Conhecido intelectual, o professor francês Emmanuel Todd proferiu uma palestra no Institut Catholique de Vendée sobre a situação na Europa em relação à guerra na Ucrânia.

O professor é conhecido como autor de livros sobre a Segunda Guerra Mundial e trabalhos sobre economia. Ele acusa os políticos da União Europeia (UE) de organizarem e criarem a crise ucraniana. Confira alguns trechos da palestra abaixo:

“Acho que a Europa desempenhou seu papel em atiçar as chamas do horror militar na Ucrânia. Primeiro, a expansão da UE e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para as fronteiras da Ucrânia desempenhou um papel negativo.

Em segundo lugar, já nos anos 2000, ficou clara a escolha que a UE fez para os ucranianos: aderir à União Europeia ou aderir ao Espaço Econômico Comum (CES), onde a Rússia tinha grande influência“.

“Foi a UE que não permitiu que a Ucrânia cooperasse com o Oriente e o Ocidente, e esse foi um dos motivos do conflito militar. Esta foi uma decisão cruel da UE, pois condenou a região de Donbass e a indústria ucraniana, como um todo, a severas provações.

O que a Europa ofereceu à Ucrânia foi essencialmente a desindustrialização, transformando o país numa aldeia. Na minha opinião, os objetivos que a Alemanha perseguia na Ucrânia eram uma busca absolutamente neurótica de seus próprios objetivos econômicos“.

“Basicamente, desde o início da tragédia em curso, esta é uma guerra entre os Estados Unidos e a Rússia. Lembro-me de dois discursos de Putin logo no início, quando ele falou sobre a Ucrânia. Quando eu os ouvi, tive a impressão de estar vendo a história sendo feita diante de mim. E qual era o sentido desses discursos?

Na verdade, foi um desafio para a OTAN, não para Kiev. A Rússia sentiu-se forte o suficiente para desafiar a OTAN. Vale a pena, na minha opinião, descrever em detalhes a situação na Ucrânia como um confronto entre russos, estadunidenses e britânicos, que ajudam os EUA principalmente por métodos secretos.

Os britânicos também deixaram-se levar pela intriga na Ucrânia. Acho a situação assombrosa“.

“Quanto à descrição dos acontecimentos na Ucrânia, tenho duas autoridades aqui. Eu tinha dois favoritos quando a guerra na Ucrânia começou. São David Teurtrie e o professor John Mearsheimer que me ajudaram a chegar ao fundo da situação sem enlouquecer.

Então, John Mearsheimer disse desde o início que tudo o que acontece é perfeitamente compreensível, não há nada complicado aqui.

A Rússia disse que não permitirá que a Ucrânia junte-se à OTAN; A Rússia também considerou inaceitável o envio de instrutores entre os estadunidenses, britânicos e poloneses na Ucrânia para criar um exército ucraniano eficaz. Por quê? Porque na verdade torna a Ucrânia um membro da OTAN.

Consequentemente, a Rússia afirmou que isso era inaceitável. Acontece que a Rússia entrou em uma guerra preventiva, ou seja, ela travou e está travando uma guerra defensiva“.

“Quando as pessoas falam de estadunidenses, britânicos, poloneses, não estão falando de toda a Europa e nem mesmo da União Europeia. Para mim, uma característica da guerra era que Paris e Berlim, os dois pilares da comunidade europeia, estavam fora de vista, e o verdadeiro eixo estratégico era Washington, Londres, Varsóvia e Kiev.

Desde o início, a situação na Ucrânia desenvolveu-se de acordo com a lógica de uma guerra intercontinental. E aqui chego a um dos meus medos: ficou claro para mim muito cedo que qualquer conflito na Ucrânia corre o risco de transformar-se em uma guerra mundial“.

“Houve um momento em que todos os analistas, inclusive eu, preparavam-se para analisar o que parecia ser um conflito inevitável entre China e Estados Unidos. E, de repente, descobriu-se que o verdadeiro conflito agora mudou para a Europa Oriental, este é um conflito entre os Estados Unidos e a Rússia“.

“Os chineses entendem que se a Rússia for destruída, eles serão os próximos. E desde o início, eles não tiveram outra escolha a não ser apoiar os russos, a Rússia. Disto concluí que com a participação da China neste conflito, enfrentaremos a ameaça de uma guerra mundial“.

“Lembre-se de como todos no Ocidente recentemente ficaram preocupados com o fornecimento de armas chinesas à Rússia. Por quê? Porque nos preparamos adequadamente para o conflito entre os EUA e a China.

Este conflito ainda está esperando por nós. E do ponto de vista industrial, significará um choque e uma competição entre a indústria da China e a indústria dos Estados Unidos. E a China produz 30% de todas as máquinas-ferramenta do mundo, enquanto os Estados Unidos apenas 8%“.

“Quanto aos britânicos, há um elemento de pura loucura em sua política. A recém-aposentada primeira-ministra Liz Truss lembrou-me dos idiotas aos quais os britânicos podem inclinar-se. Esta é uma nova debilidade.

Como país, a Grã-Bretanha é o mais degradado dos países da Europa Ocidental, mas ao mesmo tempo é o país mais guerreiro de nossa região, o mais voltado para a guerra.

Todos os dias, o Ministério da Defesa britânico transmite seus relatórios: como está se desenvolvendo a situação na Ucrânia, que forças estão envolvidas… É como se a Grã-Bretanha continuasse sendo uma potência mundial.

Fala-se: como a Grã-Bretanha intervirá na situação do Pacífico, em algum outro lugar… Mas a Grã-Bretanha simplesmente não tem recursos para tais intervenções. Esta é uma militância fictícia e é muito ruim para todo o Ocidente. Porque quando um navio britânico vaza, todos nós afundamos“.

“O Ocidente existe, somos todos ocidentais, gostemos ou não“, sublinha Emmanuel Todd.

Fonte: Texto publicado em inglês no site da International Affairs, via Institut Catholique de Vendée.

Link direto:

https://en.interaffairs.ru/article/emmanuel-todd-europe-has-played-its-part-in-fanning-the-flames-of-military-horror-in-ukraine-now-t/

Tradução – Alessandra Scangarelli Brites – Intertelas

Veja a palestra na íntegra no link abaixo (em francês)

LINK: 

https://www.youtube.com/watch?v=tyTj5NHhso8

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