França - Esquerdas se unem e se fortalecem para as eleições legislativas de Junho!

França - Esquerdas conseguem se unir e se fortalecem para as eleições legislativas de Junho! - Marcos Doniseti!

Fabien Roussel (Comunista), JL Mélenchon (La France Insoumise), Olivier Faure (Socialista) e Julien Bayou (Verdes). Unidade das 4 principais forças da Esquerda aumentou bastante as chances de vitória nas eleições legislativas de Junho. Créditos das fotos: © AFP / Thomas SAMSON / Emmanuel DUNAND / Baptiste ROMAN / Hans Lucas / Alain JOCARD.

Um minucioso trabalho realizado pelo site 'Franceinfo' mostrou que as Esquerdas francesas, ao se unirem, conseguiram se fortalecer consideravelmente para as eleições legislativas de Junho (o primeiro turno irá acontecer no dia 12 e o segundo turno será no dia 19).

Depois da eleição presidencial, na qual nenhum dos candidatos da Esquerda chegou ao segundo turno, as Esquerdas perceberam que se tivessem se unido em torno da candidatura de Mélenchon o mesmo teria ido para o segundo turno contra Macron. 

Mélenchon conquistou 7,7 milhões de votos, chegando a 21,95% dos votos válidos, ficando em terceiro lugar, obtendo apenas 400 mil votos a menos do que Marine Le Pen, a segunda colocada. 

Os demais candidatos de Esquerda, somados, conquistaram 10% dos votos no primeiro turno da eleição presidencial, assim divididos:

Yannick Jadot (Verdes) 4,63% dos votos;

Fabien Roussel (Comunista; PCF) 2,28%;

Anne Hidalgo (Socialista; PS) 1,75%;

Philippe Poutou (NPA; Novo Partido Anticapitalista) 0,77%;

Nathalie Arthaud (Luta Operária) 0,56%.

A disputa presidencial terminou com a reeleição do neoliberal Macron. 

Depois disso, ocorreram conversas intensas que resultaram na união das principais forças da Esquerda francesa para as eleições legislativas de Junho. 

O objetivo desse movimento político, que resultou na criação da NUPES (Nova União Popular Ecológica e Social) será eleger uma grande bancada parlamentar, o que permitiria aos partidos de Esquerda eleger Jean-Luc Mélenchon para ser o novo Primeiro Ministro francês.

Esses diálogos começaram entre a La France Insoumise (LFI), liderada por Mélenchon, e os Verdes (EELV), que fecharam um acordo rapidamente, criando a NUPES (Nova União Popular Ecológica e Social). 

Logo depois foi a vez dos Comunistas (PCF), liderados por Fabien Roussel, fecharem um acordo com a LFI, de Mélenchon. 

As conversas com os Socialistas demoraram um pouco mais, porém também chegaram a um acordo, com o primeiro secretário do Partido Socialista, Olivier Faure, tendo um papel fundamental nesse diálogo, devido à resistência dos setores mais conservadores do partido. 

Anne Hidalgo, candidata presidencial dos Socialistas, se declarou contrária ao acordo com a LFI, mas disse que não agirá no sentido de impedir que o mesmo seja viabilizado.

Além disso, também tivemos a adesão, à NUPES, da 'Génération Écologie', liderada por Delphine Batho, e do 'Génération.s, le mouvement', liderado por Benoit Hamon. E também estão em andamento conversas com o NPA (Novo Partido Anticapitalista), cujo candidato presidencial foi Philippe Poutou (que conquistou quase 269 mil votos, 0,77% do total), que no entanto é crítico da adesão do Partido Socialista ao NUPES. 

Então, até o momento, temos garantido a participação de seis forças políticas na 'Nova União Popular Ecológica e Social' (NUPES). 

É bom ressaltar que caso essa união tivesse ocorrido na eleição presidencial, Jean-Luc Mélenchon (La France Insoumise) teria passado para o segundo turno na condição de candidato mais votado e teria grandes chances de se tornar o novo presidente da França. 

Mas essa união não aconteceu e, daí, as Esquerdas francesas perceberam que estavam cometendo um grave erro ao se manter desunidas. E agora está ocorrendo uma correção de rota e essa união se configurou para as eleições legislativas de Junho.

Belíssima capa da edição de 04/05/2022 do "L'Humanité", jornal oficial do Partido Comunista Francês, defendendo a união das Esquerdas para as eleições legislativas de Junho, e que remete à vitória da Frente Popular para o Parlamento francês em Maio de 1936.

E ao se unir para as eleições legislativas de Junho as chances de vitória das Esquerdas aumentaram bastante, como fica comprovado pela análise do cenário eleitoral feita pelo site 'Franceinfo'.

Segundo esta análise, a NUPES, de Esquerda, terá candidatos com chances de vitória em 471 dos 577 distritos eleitorais do país. Nestes distritos, que representam 80% do total nacional, os candidatos da NUPES estarão presentes no segundo turno. 

Para efeito de comparação, o partido de Emmanuel Macron, que mudou de nome, passando a se chamar 'Renaissance' (substituindo o 'La Republique en Marche'; LREM) poderá estar presente, no segundo turno, em 448 dos 577 distritos. 

Enquanto isso, o partido de Marine Le Pen, que é o 'Reunião Nacional' (RN), deverá estar presente, no segundo turno, em 296 dos 577 distritos.

Assim, a NUPES, de Esquerda deverá eleger uma grande bancada de parlamentares, possuindo grandes chances de eleger o maior número de deputados, o que permitiria que Jean-Luc Mélenchon se tornasse o novo Primeiro Ministro, o que é o objetivo da NUPES.

Emmanuel Macron sentiu o fortalecimento das Esquerdas e também se uniu a dois outros partidos menores, ambos considerados de Centro Direita, que são o MoDem (Movimento Democrático), liderado por François Bayrou, e o Horizons, liderado por Édouard Philippe. Esses três partidos formaram a coligação 'Ensemble' ('Juntos') e sua vitória permitiria que Macron indicasse um Primeiro Ministro que seria seu aliado.

Já no campo da Extrema Direita, tudo indica que os dois principais partidos, que são a Reunião Nacional (RN), liderado por Marine Le Pen, e o novo Reconquête, liderado por Éric Zemmour, irão disputar a eleição de forma separada. 

No primeiro turno da eleição presidencial Marine Le Pen conquistou 23,1% dos votos, indo para o segundo turno, enquanto que Zemmour obteve 7,1% dos votos. 

Então, uma união entre os dois partidos da Direita Radical poderia levar os mesmos a também eleger um grande número de parlamentares, mas tudo indica que tal união não irá se concretizar. 

Um outro partido, o herdeiro do gaullismo 'Republicanos' (LR; Direita Tradicional), que lançou Valerie Pécresse para a Presidência (conquistando 4,8% dos votos, ficando em quinto lugar), poderá sofrer grandes derrotas, pois tudo aponta para o fato de que disputará as eleições legislativas de forma isolada.

Então, tudo indica que teremos uma eleição legislativa bastante acirrada em Junho, entre as forças lideradas por Mélenchon (Esquerdas), Macron (Neoliberal) e Marine Le Pen (Extrema Direita), mas a unidade das forças de Esquerda, criando a NUPES, é a grande novidade, sem dúvida alguma, e que mexeu com todo o cenário político francês.

Marine Le Pen (Extrema Direita) e Emmanuel Macron (Direita Neoliberal) lideram duas das principais forças políticas francesas.
Link:

Matéria da Franceinfo sobre o cenário eleitoral francês:

https://www.francetvinfo.fr/politique/les-republicains/infographies-legislatives-comment-la-strategie-d-union-a-gauche-change-la-donne-circonscription-par-circonscription_5116198.html

Resultados da eleição presidencial francesa de 2022:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Elei%C3%A7%C3%A3o_presidencial_da_Fran%C3%A7a_em_2022

Acordos entre os partidos de Esquerda:

https://www.franceinter.fr/politique/accord-ps-lfi-ce-qui-a-change-par-rapport-aux-textes-negocies-par-eelv-et-les-communistes

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