Boas notícias para Lula e o PT: A Direita Tradicional sofreu três derrotas em eleições recentes realizadas na Noruega, Canadá e, agora, na Alemanha.
Afinal, nos três países a vitória foi de partidos Social Democratas ou Liberais, de perfil Progressista, de Centro Esquerda, cuja pauta gira em torno de assuntos que também são importantes para as forças Progressistas brasileiras, incluindo a redução das desigualdades sociais, a defesa do Meio Ambiente e um Estado mais atuante na economia.
Na Noruega (que não faz parte da União Europeia), o Partido Trabalhista venceu a eleição para o Parlamento e voltará a governar o país, depois de derrotar os Conservadores. Desde 2013 que a Noruega era governada pelos Conservadores.
O líder dos Trabalhistas noruegueses, Jonas Gahr Store, deverá ser o novo Primeiro Ministro. Desta maneira, atualmente todos os 5 países Escandinavos (Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e Islândia) serão governados pela Social Democracia, o que não acontecia desde o final dos anos 1950.
Espanha e Portugal também são governados por partidos de Centro Esquerda. No caso da Espanha temos um governo liderado pelo histórico PSOE e pelo mais recente e jovem Unidas Podemos. O primeiro-ministro do país é o socialista Pedro Sánchez.
Em Portugal também temos um governo liderado por um Partido Socialista, do Primeiro-Ministro Antonio Costa, e que conta com a participação do Bloco de Esquerda e da CDU (Comunistas e Verdes).
Já
no Canadá, Justin Trudeau, que é o atual Primeiro Ministro, do Partido
Liberal, também de Centro Esquerda, venceu a eleição, derrotando os
Conservadores, e conseguiu um novo mandato para continuar governando o
país, que faz parte do G7. E
no mais rico e importante destes países que realizaram eleições (dia
26/09), que é a Alemanha, nós tivemos uma vitória do SPD (Partido
Social-Democrata), liderado por Olaf Scholz, atual Vice-Chanceler e
Ministro das Finanças do país.
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Trabalhistas noruegueses comemoram a vitória nas eleições (13/09) para o governo do país. O novo Primeiro Ministro será Jonas Gahr Store (segundo da direita para a esquerda). Os Trabalhistas conquistaram 26,3% dos votos e deverão liderar um governo de coalizão com os Socialistas (7,6% dos votos) e com os Centristas (13,5% dos votos). Somados, os 3 partidos conquistaram 89 deputados no Parlamento (maioria absoluta é 85).
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O resultado da eleição na Alemanha (26/09) foi o seguinte:
SPD (Social Democrata) - 25,7% dos votos; 206 deputados;
CDU/CSU - 24,1% dos votos; 196 deputados;
Grune (Verdes) - 14,8% dos votos; 118 deputados;
FDP (Liberais) - 11,5% dos votos; 92 deputados;
AfD (Alternativa para a Alemanha) - 10,3% dos votos; 83 deputados;
Die Linke (A Esquerda) - 4,9% dos votos; 39 deputados.
Assim, existem 3 possibilidades para a formação do novo governo:
- SPD, Verdes e Liberais se unem;
- CDU/CSU, Liberais e Verdes se unem;
- SPD e CDU/CSU se unem, mas com o SPD indicando o Chanceler, invertendo a situação em que a CDU/CSU é que possui a Chanceler (Angela Merkel) e o SPD tem o Vice-Chanceler (Olaf Scholz).
Somente nestas três possibilidades é que se formaria um governo de maioria absoluta no Bundestag (Parlamento).
Uma quarta possibilidade, mais remota, é que SPD, Verdes e Die Linke (A Esquerda) se unissem, mas daí faltariam 5 deputados para a maioria absoluta, que é de 368 (o total de deputados é de 735).
O mais provável é que tenhamos um governo liderado pelo SPD, mas ainda não sabemos com quais partidos ele irá se coligar. Já a CDU/CSU dificilmente continuará a governar o país, pois obteve o pior resultado da sua história nesta eleição.
Até porque, pesquisa divulgada mostra que 62% dos alemães preferem que Olaf Scholz (SPD) seja o novo Chanceler, contra apenas 16% que preferem Armin Laschet (CDU/CSU).
Outra pesquisa que foi divulgada mostrou que 55% dos eleitores alemães preferem uma coligação entre SPD, Verdes e Liberais, contra apenas 33% que preferem uma coligação entre CDU/CSU, Verdes e Liberais.
Outras pesquisas divulgadas mostraram que a coligação entre SPD, Verdes e Liberais é a preferida de 81% dos eleitores dos Verdes. Entre os eleitores dos Liberais (FDP) 51% preferem uma coligação com as CDU/CSU e os Verdes,
enquanto que 41% preferem uma coligação com o SPD e com os Verdes.
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Justin Trudeau (Partido Liberal, Centro Esquerda) venceu novamente a eleição para o governo do Canadá. Seu partido conquistou 32,6% dos votos e elegeu 157 deputados na eleição de 20/09.
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A história do SPD!
O SPD é o maior e mais importante Partido Social Democrata do mundo, tendo sido fundado em 1875, tendo sido criado por líderes e militantes do mais poderoso e organizado movimento operário da Europa e do mundo industrializado.
Durante 40 anos consecutivos, entre 1890 e 1930, o SPD foi o mais votado nas eleições para o Reichstag (Parlamento alemão), embora somente tenha feito parte do governo a partir da Revolução Democrática e Republicana de Novembro de 1918.
No período do regime Nazista o SPD foi violentamente reprimido, tal como o movimento operário, pelo governo criminoso de Hitler. O partido sobreviveu e, no Pós-Guerra, o SPD perdeu a hegemonia nas eleições para os Democratas Cristãos da CDU e CSU, que formaram uma aliança chamada de 'União' e que ainda existe. Angela Merkel governa a Alemanha desde 2005 pela 'União'.
Apesar disso, o SPD sempre conseguia votações significativas para o Parlamento da antiga Alemanha Ocidental, em torno de 29% a 32% nos anos 1950, sendo sempre o segundo mais votado. Já nos anos 1960 a sua votação atingiu um patamar bem maior, chegando aos 40% em 1965 e aos 44% nas eleições de 1969. Nesta década o SPD chegou a governar o país em coalizão com a 'União'.
Em 1972, o SPD foi o mais votado, com a eleição de Willy Brandt, que conquistou quase 49% dos votos nas eleições e se tornou o Chanceler da Alemanha Ocidental. Em 1998, Gerhard Schroeder se elegeu Chanceler pelo SPD, tendo sido reeleito em 2002. Ele governou até 2005.
Depois disso, entre 2005 e 2021, tivemos sucessivos governos da 'União', liderados pela popular Chanceler Angela Merkel. Neste último mandato de Merkel, que começou em 2017, ela foi obrigada a fazer um governo de coalizão com o próprio SPD, pois era a única maneira de conseguir maioria no Parlamento do país (o Bundestag).
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Angela Merkel e Dilma: Duas mulheres governaram dois dos países mais importantes do mundo. Mas a segunda foi vítima de um Golpe de Estado que jogou o Brasil em uma crise catastrófica e da qual não consegue mais sair. Enquanto isso, a Alemanha continuou se desenvolvendo. Estabilidade política e institucional é fundamental para o desenvolvimento de um país.
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Em seu governo, Angela Merkel combinou péssimos momentos, com outros melhores.
O pior momento foi, sem dúvida alguma a maneira autoritária com a qual tratou o governo de Centro Esquerda do 'Syriza', na Grécia, obrigando o governo do país a adotar medidas de caráter Neoliberal (aumento de impostos, redução de direitos sociais e trabalhistas, arrocho salarial) que prejudicaram imensamente ao povo grego, que empobreceu imensamente neste período.
Essa política retrógrada, que visou atender aos interesses do sistema financeiro, fortaleceu os europeus céticos em todo o bloco europeu e colaborou muito para que ocorresse o Brexit, a retirada do Reino Unido da União Europeia.
O apoio de Merkel às guerras promovidas pelos EUA e OTAN no Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria também cobraram um preço elevado, pois deram origem a uma brutal crise dos refugiados que atingiu com força a União Europeia. Um bom momento foi quando ela abriu as fronteiras da Alemanha para os refugiados e confrontou Trump, que fazia de tudo para sabotar o processo de integração europeu.
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Annalena Baerbock, a líder dos Grunen (Verdes) da Alemanha. O partido obteve o melhor resultado da sua história (14,8% dos votos) e elegeu 118 deputados. Assim, um acordo com os Verdes se tornou essencial para SPD e para a 'União' (CDU/CSU). Um acordo com os Verdes é essencial para viabilizar o governo de qualquer um dos partidos maiores partidos do país.
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O novo cenário político e social da Europa, a vitória do SPD e o crescimento dos Verdes!
A vitória da Social Democracia e o crescimento dos Verdes na Alemanha tem fortes relações com as crescentes preocupações dos alemães, e também dos europeus, com as questões climáticas e com o grande aumento das desigualdades sociais, que ocorreram em função das políticas Neoliberais, que atendem apenas aos interesses do Grande Capital Financeiro Global.
O SPD defende, em seu programa de governo, um aumento na tributação sobre os mais ricos e sobre as empresas, bem como um fortalecimento das políticas de defesa do Meio Ambiente e de redução das desigualdades sociais, tal como o governo Biden também está fazendo nos EUA.
Assim, por exemplo, o SPD quer estimular a produção e a venda de veículos elétricos, de maneira a que já tenhamos 15 milhões deles circulando na Alemanha em 2030. E o SPD também estimular o transporte ferroviário, em detrimento do aéreo, pois ele é menos poluente.
E o SPD também defende o aumento do Salário Mínimo de 9,50 Euros/hora para 12 Euros/hora, promovendo um aumento de 26,3% em seu valor. Para financiar essa medida, o SPD defende um aumento da tributação sobre os alemães que ganham mais de 90 mil Euros anuais.
Estes problemas estão no centro das preocupações das populações da Europa e dos EUA, o que ajuda muito a explicar a vitória de Biden nos EUA, dos Liberais no Canadá e dos Sociais Democratas na Alemanha e na Noruega.
Assim, questões como a dos imigrantes e dos refugiados, que ainda são importantes nos países europeus, tornaram-se menos relevantes na visão de um grande número de habitantes da União Europeia e dos EUA.
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Lula e Gleisi se encontraram com o represente do SPD no Brasil, Christoph Heuser, saudando a vitória do partido na eleição alemã. O PT e a CUT possuem relações de muitos com o SPD alemão. A Fundação do SPD, Friederich Ebert, tem relações bastante antigas com as forças Progressistas brasileiras.
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A Pandemia de Covid-19 também contribuiu para que ocorresse essa mudança no cenário político e social da Europa.
Esta deixou claro a importância de existir um Estado atuante em questões como a da Saúde. Sem os serviços públicos de Saúde não teria sido possível, por exemplo, vacinar tantas pessoas em tão pouco tempo. Na União Europeia o percentual de vacinados com a pauta completa já superou 70% em inúmeros países, sendo que isso aconteceu apenas 18 meses após o início da Pandemia.
Logo, foram os Estados, o setor público, que promoveram políticas que permitiram combater a Pandemia rapidamente, fazendo com que fossem desenvolvidas várias vacinas contra a Covid-19 em pouquíssimo tempo e que a vacinação também pudesse avançar rapidamente.
Além disso, também tivemos uma divisão significativa em torno da idade dos eleitores. Assim, enquanto os mais jovens votaram muito mais nos Verdes e no SPD, a CDU/CSU obteve a imensa maioria dos seus votos entre os mais velhos. Isso mostra que há uma divisão entre as gerações na Alemanha, pois as prioridades dos jovens e dos idosos são bem diferentes.
Então, as questões que são as mais relevantes para as populações dos EUA e da União Europeia, neste momento, envolvem temas como o Bem-Estar Social, a defesa do Meio Ambiente, um Estado mais atuante na economia e a redução das desigualdades sociais.
E as soluções para esses problemas são, historicamente, defendidas com muito mais relevância e prioridade pelas forças mais Progressistas do espectro político europeu e dos países ricos, como são os casos dos Sociais Democratas, Trabalhistas, Socialistas e até de alguns Liberais (caso dos canadenses).
Então, podemos esperar por um fortalecimento dos partidos Socialistas, Social Democratas, Trabalhistas e Liberais na União Europeia nas próximas eleições, bem como por uma queda dos partidos de Extrema-Direita, tal como já aconteceu na Alemanha e na Noruega.
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