Alemanha: Resultados das eleições alemãs indicam um novo rumo para o país mais rico da Europa: Menos desigualdades sociais, mais estímulos para a economia digital e mais proteção para o Meio Ambiente!

Alemanha: Resultados das eleições alemãs indicam um novo rumo para o país mais rico da Europa: Menos desigualdades sociais, mais estímulos para a economia digital e mais proteção para o Meio Ambiente! - Marcos Doniseti!

Olaf Scholz, líder do SPD, e Annalena Baerbock, líder dos Verdes, os dois partidos que mais cresceram nesta eleição.
 

Vou comentar alguns aspectos interessantes das eleições que foram realizadas na Alemanha, neste domingo (26/09).

1) Estas eleições tiveram como principais fenômenos o forte crescimento do SPD (25,7%) e dos Verdes (14,8%) em suas votações, bem como a redução das votações dos partidos mais Conservadores (da CDU/CSU, de Direita Tradicional e Moderada, 24,1%, e da AfD, de Extrema Direita, 10,3%).

Nesta eleição, o eleitorado alemão fez uma mudança de rota em direção a partidos de Centro Esquerda, como são os casos dos Verdes e do SPD, concedendo menos votos para partidos de Direita, seja moderada, seja radical.

2) O novo Bundestag (Parlamento) alemão terá 735 deputados e ficou dividido assim:

SPD (Centro Esquerda) - 206 deputados;

CDU/CSU (Centro Direita) - 196 deputados;

Verdes (Centro Esquerda) - 118 deputados; 

Liberais (Centro Direita) - 92 deputados;

Alternativa para a Alemanha (Extrema Direita) - 83 deputados;

Die Linke (Esquerda) - 39 deputados. 

3) Já na eleição de 2017 SPD havia feito exigências de concessões de Angela Merkel para governar em regime de coalizão com ela a partir daquele ano.

Uma das exigências do SPD foi a criação de um Salário Mínimo nacional, que não existia no país.

Após a eleição de 2017, o SPD também indicou o Vice-Chanceler (Olaf Scholz) e ocupa ministérios importantes (Finanças, Relações Exteriores). Inclusive, Olaf Scholz é, também, o atual Ministro das Finanças da Alemanha. 

Isso fez com que o governo alemão adotasse uma política radicalmente diferente quando estourou a Pandemia de Covid-19, pois o mesmo estimulou aumento de gastos públicos a fim de garantir a manutenção do nível de atividade econômica, evitando um grande aumento no número de falências e na taxa de desemprego. 

Para efeito de comparação, quando estourou a crise da Grécia (2010) e do Euro (2011), o governo exclusivamente conservador de Angela Merkel adotou uma política de Austeridade que gerou uma profunda Recessão na União Europeia, gerando um grande aumento de falências e na taxa de desemprego. Naquela época o SPD não fazia parte do governo alemão.

Portanto, o SPD é um partido responsável, no qual se pode confiar e que governa de maneira racional e sem extremismos, sem apelar para irresponsáveis políticas de austeridade. E o SPD também defende o fortalecimento do processo de integração europeu.

Volker Wissing (Liberal), Annalena Baerbock (Verdes), Christian Lindner (Liberal), Robert Habeck (Verdes) se reuniram para iniciar um diálogo entre os dois partidos. Verdes e Liberais visam se unir para negociar formação de novo governo alemão. Os dois partidos, somados, chegaram a 26,3% de votos na eleição de domingo para o Parlamento do país. Os Verdes ficaram em terceiro lugar e conquistaram 14,8% dos votos, com os Liberais vindo logo a seguir, com 11,5% dos votos.

4) Nesta campanha eleitoral de 2021 o SPD incluiu em seu programa de governo o aumento da tributação dos mais ricos e das grandes empresas, o fortalecimento das políticas de defesa do Meio Ambiente (quer 15 milhões de veículos elétricos circulando no país até 2030) e o aumento do valor do Salário Mínimo de 9,50 Euros/hora para 12 Euros/hora.

Outros partidos também defenderam propostas próximas dessas, principalmente os Verdes e o 'Die Linke' (A Esquerda).

5) O povo alemão deixou claro que se cansou da 'União', que reúne o CDU e a CSU, que é uma aliança partidária conservadora e que é basicamente votado pelos mais idosos.

Sua votação despencou de 33%, em 2017, para 24,1% agora, o que foi o pior resultado da história da aliança;

6) O líder do SPD, Olaf Scholz, é o preferido de 62% dos alemães para ser o novo Chanceler do país.

Assim, há uma cansaço com os governos do CDU/CSU.

O povo alemão quer que o país tome uma nova rota, mas sem radicalismos (nem de Direita, nem de Esquerda);

Jovens alemães, na faixa etária de 18 a 24 anos, votaram em peso nos Verdes (23%), Liberais (21%) e no SPD (15%). Já os conservadores da CDU tiveram apenas 10% nesse segmento.

7) Voto jovem se concentra nos Verdes e nos Liberais, com SPD em terceiro.

A maioria dos jovens alemães, na faixa etária de 18 a 24 anos, votou nos Verdes (apoio de 23%, contra 14,8% no total), nos Liberais (21%, contra 11,5% no total) e no SPD (15%, contra 25,7% no total), totalizando 59% dos votos nos três partidos. Enquanto isso, a CDU de Merkel conquistou apenas 10%  dos votos nessa faixa etária (contra 24,1% no total).

Assim, o novo governo alemão deverá ser liderado pelo SPD e pelos Verdes, que representam uma nova geração e que defendem uma nova pauta, mais Progressista, para o governo do país. Boa parte da bancada que foi eleita pelo SPD é de jovens.

8) Os Verdes (Grunen) estão dialogando com os Liberais (FDP), que tiveram um leve crescimento em sua votação, de 10,8% para 11,5% dos votos, e elegeram a quarta maior bancada do Parlamento (Bundestag).

Existem algumas diferenças relevantes entre os programas dos dois partidos (nas questões de tributação e climáticas, por exemplo), mas se eles conseguirem fechar um acordo, poderão dialogar em posição de força com o SPD para a formação do novo governo alemão.

9) Para Lula e para o PT o resultado desta eleição alemã foi excelente, pois o SPD tem ligações históricas, de longa data, com o PT, CUT e com o MST.

A Fundação Friedrich Ebert, ligada ao SPD, já organizou muitos cursos no Brasil em conjunto com a CUT, MST, PT e com a Fundação Perseu Abramo (ligada ao PT).

É bom lembrar, também, que Lula recebeu o apoio de Martin Schulz, quando estava preso ilegalmente, que é um importante líder do SPD e que já foi presidente do Parlamento europeu (2012-2017) e do próprio SPD.

Esse apoio de Schulz foi feito em 2018 e com o respaldo dos partidos Social Democratas e Socialistas alemães e europeus.

Em Março de 2020, Lula retribuiu a gentileza de Schulz, e visitou a sede do SPD e se encontrou com o presidente do partido. Lula também já manifestou seu contentamento com a vitória do SPD e de Olaf Scholz e Martin Schulz já declarou apoio à candidatura presidencial de Lula em 2022.

Lula visitou a sede do SPD (Partido Social Democrata), em Março de 2020, quando se encontrou com o presidente (Norbert Walter-Borjans) do maior partido de Centro Esquerda da Europa, bem como o mais antigo e tradicional, fundado em 1875.

10) Três partidos perderam votos em relação à eleição de 2017.

A 'União' (CDU/CSU), conservadora, caiu de 33% para 24,1% dos votos. Além disso, a votação do AfD (Extrema-Direita) diminuiu em relação à eleição anterior, caindo de 11,5% para 10,3%.

Outro partido que sofreu uma forte queda em sua votação foi o 'Die Linke' (A Esquerda), que despencou de 9,2% para 4,9% dos  votos.

Tudo aponta para o fato de que o 'Die Linke' perdeu votos para o SPD e para os Verdes, cujos programas são relativamente próximos aos do 'Die Linke'. E como o SPD e os Verdes estavam bem à frente nas pesquisas, isso pode ter levado muitos eleitores do 'Die Linke' a escolher os Social Democratas e os Verdes na eleição.

11) Três partidos cresceram nestas eleições em comparação com a eleição de 2017:

Os Grunen (Verdes) cresceram de 9% para 14,8% dos votos (+ 5,8 p.p. sobre 2017);

O SPD cresceu de 20,5% para 25,7% dos votos;

O FDP (Liberais) passaram de 10,8% para 11,5% dos votos.

Um aspecto importante é que os três partidos possuem um claro compromisso com o fortalecimento do processo de integração europeu. 

12) Os problemas que mais preocupam os alemães atualmente são as alterações climáticas e o aumento das desigualdades sociais.

O SPD e Grunen (Verdes) tem propostas concretas para esses problemas, enquanto que os CDU/CSU são frágeis nestes assuntos, refletindo seu conservadorismo programático e também etário do seu eleitorado e das suas lideranças.

O SPD, por exemplo, defende estímulos para a produção e venda de veículos elétricos, como já citei, e também quer aumentar os preços das passagens aéreas e estimular o uso das ferrovias, pois os aviões são muito mais poluentes do que as ferrovias. Os Verdes defendem mais investimentos em ferrovias, ciclovias e internet.

Portanto, os resultados dessas eleições alemãs apontam, claramente, numa mesma direção, que é a de combater os efeitos das alterações climáticas, reduzir as desigualdades e estimular a economia digital. 

Armin Laschet (CDU; Conservador Moderado), Olaf Scholz (SPD; Social Democrata), Annalena Baerbock (Grune; Verdes) e Christian Lindner (FDP; Liberais) lideram os 4 principais partidos políticos da Alemanha.

Links:

 Vitória de Scholz reaviva a Social Democracia europeia:

https://brasil.elpais.com/internacional/2021-09-28/vitoria-de-olaf-scholz-na-alemanha-reaviva-a-social-democracia-europeia.html

Jovem esquerdista do SPD se elege pelo distrito de Merkel:

https://www.dw.com/pt-br/jovem-esquerdista-vai-ocupar-vaga-de-merkel-no-parlamento/a-59343280

Verdes e Liberais serão fundamentais para a formação do novo governo alemão:

https://www.dw.com/pt-br/opini%C3%A3o-a-alemanha-quer-mudan%C3%A7a/a-59319846

Verdes e Liberais dialogam em busca de acordo, apesar das diferenças significativas: 

https://www.terra.com.br/noticias/mundo/novos-melhores-amigos-verdes-e-fdp-se-aproximam-visando-coalizao-na-alemanha,ecce2158104bd4a498cd40e42a0fbd88omqxe4dk.html

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