São Paulo: Comentando o debate na TV Cultura e as tendências sobre o complicado cenário eleitoral do primeiro turno! -
São Paulo: Comentando o debate na TV Cultura e as tendências sobre o complicado cenário eleitoral do primeiro turno! - Marcos Doniseti!
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| Carlos Zaratini, Jilmar Tatto e um militante do PT em uma região da vasta e pobre periferia de São Paulo. |
Não é necessário ficar dizendo que a eleição para a prefeitura de São Paulo tem grande importância, é claro, pois é a maior e mais rica cidade brasileira.
A capital paulista possui mais de 12,2 milhões de habitantes e também conta com o quinto maior orçamento do país, arrecadando R$ 60,1 Bilhões apenas em 2019, ficando atrás apenas dos orçamentos do Governo Federal (R$ 2,9 Trilhões) e dos governos do estado de São Paulo (R$ 225 Bilhões), Minas Gerais (R$ 82,6 Bilhões) e Rio de Janeiro (R$ 61,9 Bilhões).
A campanha eleitoral deste ano se desenvolveu em um cenário muito diferente daquele que tivemos em 2016, pois entraram em vigor várias mudanças que foram promovidas pela minirreforma eleitoral feita por Eduardo Cunha em 20
Em função disso, quero chamar a atenção para alguns aspectos do cenário eleitoral paulistano que serão decisivos e que são os seguintes:
- Nas últimas semanas a campanha de Jilmar Tatto passou a ter uma penetração maior na vasta e pobre periferia da capital, onde o PT sempre foi bem votado e que lhe deu as três vitórias em 1988, 2000 e 2012.
- Não sabemos qual será o percentual de brancos, nulos e abstenções, que já foi muito elevado nas últimas eleições (2016 e 2018). E dependendo de quem deixar de votar poderemos ter surpresas na apuração.
- Esse percentual elevado de eleitores que não votará em ninguém poderá ser, agora, ainda maior do que foi em 2016 e em 2018, pois temos um cenário agravado pela Pandemia de Covid-19.
- Estas circunstâncias poderão fazer com que muitos eleitores não apareçam para votar, principalmente os mais idosos e aqueles com algum problema de saúde, preferindo justificar o voto. Afinal, quem sai para as baladas e festas que vemos na Mídia são os mais jovens.
- Neste cenário, os candidatos e partidos que tiverem maior capacidade de mobilizar os seus eleitores para que compareçam para votar terão maiores chances de ir para o segundo turno.
- Alguns dizem que poderemos ter, nestes últimos dias, um grande crescimento da candidatura de Bruno Covas na periferia, mas eu tenho dúvidas de que isso irá acontecer e que isso seria suficiente para resolver a eleição no primeiro turno.
Com o João Doria, que cresceu rapidamente nos últimos dias, venceu na periferia e liquidou a eleição no primeiro turno, isso aconteceu porque ele surfou na onda do antipetismo, que estava no auge, em 2016.
Agora, a rejeição ao PT já diminuiu bastante e isso irá fazer inclusive com que o partido eleja muito mais prefeitos e vereadores do que conseguiu em 2016. Em 2016 o PT elegeu cerca de 250 prefeitos no país inteiro e, agora, a previsão é a de que irá eleger algo entre 370 e 420.
Além disso, o governo de João Doria e Bruno Covas, ambos do PSDB, prejudicou imensamente a periferia.
Entre outras medidas, o governo dele fechou muitas unidades de saúde, reduziu o número de linhas de ônibus e de ônibus em circulação, cortou drasticamente programas sociais da prefeitura e reduziu bastante os investimentos na educação, por exemplo.
E o combate à Pandemia por parte da Prefeitura na periferia foi negligenciado, sendo que foi dada prioridade nos bairros centrais e mais ricos.
No debate da TV Cultura de ontem a noite, os candidatos que tiveram o pior desempenho foram Russomanno e Covas. E ainda teremos três dias para que o impacto seja absorvido pelo eleitorado, mesmo entre aqueles eleitores que não assistiram ao mesmo.
No debate, Russomanno se deu muito mal quando enfrentou Tatto e Boulos, principalmente no embate com o petista, enquanto o tucano Covas teve o seu governo bastante criticado pelos demais candidatos, que denunciaram o abandono da cidade pelo seu governo.
Tudo foi criticado, incluindo os itens abaixo, motivo pelo qual Bruno Covas foi bastante beneficiado pela não realização de outros debates pelas principais Redes de TV do país (Globo, Record, SBT, Band, Rede TV!):
- Ineficiência no combate à Pandemia, sendo que a segunda onda na cidade já começou, devido à realização de festas, jantares e baladas pela cidade;
- Existência de milhares de pessoas abandonadas vivendo pelas ruas da cidade;
- Fracasso em resolver o problema da Cracolândia;
- Fechamento do comércio e dos pequenos negócios para combater a Pandemia, que levou ao fechamento de muitas lojas e pequenas empresas;
- Impostos elevados e acusações sobre a suposta existência de uma 'Máfia dos Transportes';
- Reforma do Anhaganbaú, que reduziu a área verde na região e que alagou completamente logo no primeiro dia devido a alguns minutos de chuva;
- Críticas contra o Vice de Covas;
- Redução do Bilhete Único e do Leve Leite pelo governo João Doria e Bruno Covas, ambos do PSDB.
Assim, ficou bem evidente, para aqueles que assistiram ao debate, que a cidade de São Paulo está em péssima situação, em situação de virtual abandono.
Mas a propaganda de Covas na campanha eleitoral apresenta São Paulo como se fosse uma cidade da Noruega ou da Suécia, onde tudo é lindo e maravilhoso e os serviços públicos funcionam perfeitamente.
Em sua propaganda, a cidade São Paulo é vendida por Covas como se fosse uma Oslo ou uma Estocolmo brasileira, o que é uma piada.
Esse contraste violento entre o que a propaganda de Covas mostra e o cotidiano da população é muito claro para quem vive ou anda pela cidade.
Então, em função de todos estes fatores, entendo que a tendência mais provável é a de que teremos segundo turno. A incógnita é sobre quem será o adversário de Covas no segundo turno.
As pesquisas possuem uma metodologia que, muitas vezes, impedem de apontar o crescimento ou queda rápida de alguma candidatura, o que já foi objeto de análise aqui neste blog.
O Datafolha, por exemplo, nunca acertou a votação das candidaturas do PT ao governo do estado de São Paulo e isso ocorre desde 1998. Em todas as eleições (1998, 2002, 2006, 2010, 2014, 2018) as candidaturas petistas sempre tiveram muito mais votos do que as pesquisas Datafolha mostravam na véspera da eleição.
E tudo aponta para algum erro de metodologia do instituto, que não informa aos eleitores qual é o partido ou o número dos candidatos, o que no caso do PT é importante, pois muitos eleitores do partido votam no 13, independente de quem seja o (a) candidato (a).
Afinal, o próprio PT sempre estimulou o voto no 13 e, assim, muitos eleitores fazem isso, independente de quem seja o (a) candidato (a); E segundo a última pesquisa do Datafolha, o PT é o partido preferido de 18% dos eleitores paulistanos.
Então, é bem provável que, a não ser que sofra uma grande sangria em razão da defesa do voto útil em favor de Boulos, o mais provável é que Tatto conquiste um percentual de votos maior do que as principais pesquisas mostram até o momento.
Até porque o próprio Jilmar Tatto tem muito o que mostrar em termos de realizações, dele e do PT, pois foi secretário de Administração, Abastecimento e Transportes e tem muitas realizações para mostrar, em função da três gestoes do PT na cidade (Erundina, Marta e Haddad).
Estes são os casos dos CEUS, do Bilhete Único, das Ciclovias, das Faixas Exclusivas de Ônibus (foram 400 quilômetros de cada uma), da Refeição Completa nas escolas e de hospitais, creches e escolas que foram construídas pelo partido.
Quanto aos outros candidatos, Boulos penetrou na juventude progressista da classe média e atraiu muitos eleitores do PT, e isso fez com que subisse nas pesquisas, entrando na disputa pela segunda vaga no segundo turno, mas é bem mais fraco na periferia.
Enquanto isso, Russomanno (Republicanos) também tem força na periferia e conta com o apoio eleitoral importante de muitas igrejas neopentecostais (Igreja Universal, em especial) e, também, de Bolsonaro.
Porém, o aumento da rejeição popular ao governo de Bolsonaro está, claramente, prejudicando a candidatura de Russomanno, que é a mais rejeitada pelos paulistanos.
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| O número de 'moradores de rua' aumentou 53% entre 2015 e 2019 na cidade de São Paulo. A inação da prefeitura e do governo do estado de São Paulo foi objeto de críticas no debate da TV Cultura. |
O grande número de casos e de mortes pela Covid-19, o aumento do desemprego, a disparada dos preços dos alimentos e a redução pela metade do valor do auxílio emergencial estão gerando uma crescente impopularidade do governo Bolsonaro, o que já foi demonstrado por duas recentes pesquisas, do 'PoderData' e da 'Revista Fórum'.
Na pesquisa da Revista Fórum o índice de Ruim/Péssimo do governo Bolsonaro subiu de 36,5% para 40%, enquanto o índice de Ótimo/Bom caiu de 34,9% para 30,9%, mudanças que ocorreram entre Outubro e Novembro.
E esta crescente impopularidade tem impactos eleitorais, sem dúvida alguma.
Este cenário está fazendo com que as candidaturas identificadas com Bolsonaro estejam tendo um péssimo desempenho no país inteiro, em especial nas grandes e médias cidades.
Outro candidato com chances de ir para o segundo turno é Márcio França (PSB-PDT-Avante-Solidariedade), que se apresenta como um candidato moderado, de perfil centrista, que dialoga com todos.
Assim, França procura preservar uma certa proximidade com Bolsonaro (ele disse que Bolsonaro é 'uma pessoa autêntica que fala o que pensa'), tendo o apoio de uma ala mais tradicional dos tucanos, ligada à Geraldo Alckmin, e que conta com o apoio do PDT e de Ciro Gomes. Seu Vice é Antônio Neto, ligado à CGTB e à CSB, duas centrais sindicais.
Link:
Arrecadação da cidade de São Paulo em 2019 foi de R$ 60,1 Bilhões, o quinto maior do país:
https://camaraptsp.org.br/cidade-de-sao-paulo-possui-o-5o-maior-orcamento-do-pais/
Reforma Política aprovada por Eduardo Cunha em 2015:
Márcio França (PSB) conquista o apoio do PDT:
Pesquisa da Revista Fórum mostra aumento da impopularidade de Bolsonaro e índice de Ruim/Péssimo sobe para 40%:





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