Os EUA, os Democratas Progressistas, Trump, o Imperialismo e o Neofascismo Globalizado! - Marcos Doniseti!
Os movimentos progressistas dentro do Partido Democrata!
Há uma diferença importante entre Democratas e Republicanos, no plano da política interna, que é necessário comentar de forma mais detalhada, para se perceber quais são as diferenças mais significativas entre o que as candidaturas de Biden e Trump representam e defendem.
Um fato ignorado pela Grande Mídia é que dentro do Partido Democrata existem significativos movimentos sociais de perfil claramente progressista: Black Lives Matter, Green New Deal, Feministas, de Jovens, LGBTQI, de Afro-Americanos e de Imigrantes ilegais.
Em função disso, a plataforma de governo do Biden é a mais Progressista da história dos candidatos do Partido Democrata, algo que o Noam Chomsky falou recentemente (ver entrevista dele publicada no site 'Outras Palavras' há alguns dias).
Assim, Biden aceitou incorporar propostas destes movimentos em seu programa, incluindo a defesa do Salário Mínimo de US$ 15/hora, do Green New Deal, se comprometeu a atacar o Racismo Estrutural no país.
Biden também passou a defender a renegociação das dívidas estudantis daqueles jovens que são de grupos minoritários e de menor renda. Ele também incorporou a proposta de aumentar a tributação sobre as grandes Corporações e sobre os mais ricos, que Trump reduziu drasticamente (em 40%) durante o seu governo.
Em função disso, Biden atraiu o voto destes segmentos mais progressistas do eleitorado, onde ele abre grande vantagem sobre o Trump.
Assim, entre os negros ou afro-americanos, Biden conquista mais de 80% dos votos, ele passa de 70% entre os jovens e chega a 60% entre as mulheres e perto de 60% entre os eleitores latinos.
É em função destes fortes apoios que Biden sempre apareceu à frente de Trump nas pesquisas e que se tornou o favorito para vencer a eleição. Trump é majoritário apenas entre homens brancos mais velhos.
Os negros ou afro-americanos já votam em peso nos Democratas desde a aprovação das leis dos Direitos Civis, em 1964, no governo de Lyndon Johnson.
Tudo isso ajuda e muito a explicar porque Trump está com grandes dificuldades para segurar estados tradicionalmente Republicanos (Arizona, Georgia, Iowa e Texas) e também corre sério risco de perder onde venceu em 2016 (Flórida, Michigan, Ohio, Pennsylvania e Wisconsin).
Biden, Trump e as Guerras: Os dois partidos são Imperialistas!
Muito diferente do que se diz por aí, Trump também foi imperialista em seu governo, sim.
Isso fica claro por uma série de iniciativa de caráter nitidamente agressivo em política externo.
Desta maneira, o seu governo bancou o fantoche patético do Guaidó e promoveu sanções duras contra a Venezuela, apoiou o Golpe de Estado na Bolívia e reverteu política de aproximação com Cuba que foi promovida por Obama.
Trump também dá sustentação para o governo reacionário de Bolsonaro e, agora, está levando a política de ódio para a Argentina, procurando desestabilizar o governo progressista de Alberto Fernández.
Assim, para a América Latina, o governo de Trump também foi um desastre.
Além disso, Trump dá apoio e sustentação para inúmeros partidos e movimentos de caráter Neofascista ou Reacionário mundo afora: Boris Johnson (Reino Unido), Matteo Salvini (Itália), Marine Le Pen (França), Viktor Orban (Hungria) e os partidos de Extrema-Direita 'Chega!' (Portugal) e o 'Vox' (Espanha).
Não se pode esquece que as Guerras do Iraque e do Afeganistão foram iniciadas pelos Republicanos (governo Bush).
![]() |
| As três fundadoras do movimento 'Black Lives Matter', que tomo as ruas do país e do mundo, conseguindo a adesão de pessoas comuns e também de artistas e esportistas famosos. |
A Guerra na Líbia foi mais uma iniciativa da União Europeia do que dos EUA, pois o Khadafi tinha o projeto de criar uma moeda única na África, o que poderia tirar espaço do Euro no sistema financeiro internacional, isso em um momento em que a economia da UE enfrentava uma gravíssima crise naquela época, correndo o risco até de sofrer um colapso.
E a guerra na Síria, travada por procuração, por meio do ISIS/Daesh/Estado Islâmico foi, em grande parte, uma guerra da Arábia e dos países membros do CCG (Conselho de Cooperação do Golfo) contra os seus inimigos na região (Síria, Irã, Iraque), e não apenas dos EUA propriamente dito.
E Trump decretou sanções brutais contra a Venezuela, mesmo em meio à Pandemia de Covid-19, rompeu o acordo nuclear com o Irã e assassinou o general Soleimani, principal herói militar iraniano, gerando mais instabilidade no Oriente Médio.
Trump também reverteu totalmente a política de aproximação dos EUA com Cuba, que o governo de Obama, que visitou a ilha, havia adotado.
O governo Trump criou o fantoche Juan Guaidó, apoiou o Golpe de Estado na Bolívia, manteve milhares de soldados dos EUA no Afeganistão, Iraque, pelo mundo todo.
As bases militares dos EUA pelo mundo afora (são mais de 800) permaneceram intactas e Trump também aumentou brutalmente o orçamento militar dos EUA em seu governo, mesmo que isso tenha gerado um grande aumento da dívida pública (esta cresceu US$ 4 Trilhões apenas entre 2017 e 2019 e o Déficit Público, apenas em 2019, foi de US$ 1 Trilhão).
Portanto, Trump fortaleceu a estrutura militar e as ações imperialistas dos EUA no mundo inteiro. Elas estão prontas para iniciar uma nova guerra em grande escala a qualquer momento. Basta o Big Business dar a ordem para isso e bum, as bombas ianques voltarão a explodir pelo mundo.
![]() |
| Manifestação do movimento 'Black Lives Matter', que mobilizou milhões de pessoas pelo mundo inteiro e que foi brutalmente reprimido por Trump. |
Então, não existe um partido que seja mais ou que seja menos favorável à guerra. Os dois partidos são pró guerra e darão início a um novo ataque, contra algum país, quando isso for conveniente, caso isso seja do interesse do Grande Capital, em suas várias frações, que controla o sistema político e institucional dos EUA.
Na verdade, já no governo Obama tivemos algumas mudanças na estratégia de política externa dos EUA, que decidiu abandonar a realização de guerras em grande escala, como aquelas que o governo de Bush havia iniciado no Afeganistão (em 2001) e no Iraque (em 2003).
Obama decidiu promover guerras por procuração, usar de drones e de tropas especiais (Special Forces), que promoveram milhares de ações secretas e criminosas pelo mundo todo, agindo em cerca de 80 países, mas não iniciou nenhuma nova guerra em grande escala.
Obs: Sobre essas guerras secretas e sujas dos EUA a partir do governo Obama, sugiro a leitura do livro 'Guerras Sujas', de Jeremy Scahill. Também temos um ótimo documentário baseado no livro e que foi indicado ao Oscar.
Portanto, se os EUA não iniciam novas guerras isso não tem nada a ver com Trump. Isso aconteceu porque ocorreram ajustes na estratégia imperialista dos EUA a partir do governo Obama.
E um dos fatores para que isso acontecesse é que a população do país cansou destas guerras em grande escala, que envolvem centenas de milhares de militares em conflitos pelo mundo inteiro. Além disso, elas custam muito caro e não resolvem nada.
A Guerra do Iraque, iniciada por Bush em 2003, que usou de mentiras abjetas para justificar a mesma, custou US$ 2 Trilhões nos primeiros 10 anos, devastou o país, matou mais de 1 milhão de iraquianos e o país se tornou palco de guerras brutais, envolvendo sunitas, xiitas, curdos, a Al-Qaeda e o ISIS/Daesh/Estado Islâmico.
Esse cansaço da população dos EUA ocorre por vários motivos, seja porque os estadunidenses não querem mais ver soldados voltando para casa mortos, feridos, sem um braço ou sem uma perna, ou com problemas psicológicos sérios, seja porque não quer mais pagar impostos elevados para financiar as mesmas. E esse cansaço já vem de muitos anos.
![]() |
| General iraniano Qasem Soleimani foi assassinado em Janeiro deste ano pelos EUA. Este foi um dos atos mais horripilantes da política externa do governo Trump. |
Aliás, é bom não esquecer que esse cansaço com as guerras foi o fator principal que levou à vitória folgada de Obama na eleição de 2008.
Assim, ficou politicamente inviável iniciar novas guerras como a do Iraque, que Bush promoveu em 2003, quando o mesmo enviou 340 mil soldados (incluindo 160 mil mercenários contratados junto a empresas privadas, como a 'Blackwater') para destruir o país e derrubar Saddam.
Além de milhares de soldados mortos, feridos ou que foram afetados nos aspectos emocional e psicológicos, apenas esta Guerra do Iraque, iniciada em 2003, custou US$ 2 Trilhões para os EUA, matou centenas de milhares de iraquianos e ainda fortaleceu os grupos e movimentos do Extremismo Islâmico pelo mundo afora.
Então, os imperialistas, durante o governo Obama, mudaram a sua estratégia, abandonando a realização de guerras em grande escala. Obama havia prometido, em sua primeira campanha eleitoral, que iria promover mudanças quanto a isso.
Assim, os setores imperialistas dos EUA passaram a promover guerras de menor intensidade, com bem menos soldados e com a participação da OTAN e de países aliados ou, ainda, realizaram guerras por procuração (Líbia, Síria), usando de mercenários e grupos extremistas originários de outros países.
Eles também passaram a promover sanções comerciais brutais contra países que não se submetem aos interesses estratégicos dos EUA (Irã, Venezuela), bem como promovem processos de desestabilização e Golpes de Estado (Venezuela, Honduras, Paraguai, Ucrânia, Brasil, Bolívia).
Eles então adotam uma mistura destas várias iniciativas, que são chamadas de Guerras Híbridas.
![]() |
| O então Vice-Presidente dos EUA Joe Biden visitou Dilma, em 2014, e trouxe documentos que comprovavam a prática de torturas pela Ditadura Militar brasileira. |
Portanto, esta mudança de estratégia, por parte dos EUA e das nações imperialistas que são seus aliados (caso do Reino Unido) já havia começado no governo Obama e o governo Trump não tem nada a ver com isso.
Promover essa mudança foi uma decisão do Deep State, das principais frações da classe dominante dos EUA que sabe que os custos destas guerras modernas, ultratecnológicas, se tornaram proibitivos, de vários trilhões de dólares e os resultados das mesmas são medíocres, pouco modificando a situação que existia anteriormente.
Esse é o caso do Afeganistão e do Iraque que, novamente, cujos territórios e população estão, novamente, sob o controle de forças políticas e militares locais que não são submissas aos interesses dos EUA. Assim, recentemente, em janeiro de 2020, o Parlamento do Iraque determinou a retirada das tropas dos EUA estacionadas no país.
O Deep State reúne os interesses do Grande Capital dos EUA, incluindo Wall Street, o Complexo de Segurança Nacional, o Complexo Industrial-Militar, as Indústrias de Energia (Petróloe) e as de Alta Tecnologia (do Vale do Silício).
Outro elemento importante é que as guerras desgastam a imagem dos EUA no mundo todo e fazem com que muitos países comecem a repensar a sua aliança com os mesmos. Daí, a China e a Rússia passam a cortejar estes países, atraindo-os para a sua esfera de influência.
Então, essa política menos sangrenta por parte dos EUA continuará no governo Biden, pois essa é uma decisão de caráter estratégico, que vai além do poder dos dois partidos e que foi tomada pelo Deep State.
Trump e o Neofascismo Globalizado!
Mas o problema maior com o Trump é que ele é o líder do Neofascismo Globalizado, que está destruindo, aos poucos, as poucas liberdades que foram conquistadas ao longo da história (expressão, manifestação, reunião) pelo mundo afora.
As ameaças de trumpistas armados ao ônibus de campanha de Biden no Texas, que obrigou a campanha democrata a cancelar os atos previstos no estado, e que contaram com o apoio de Trump, são uma demonstração clara de qual é o rumo para o qual os EUA estão caminhando neste momento e que será radicalizado se Trump for reeleito: Ditadura pura e simples.
Porém, caso Trump venha a deixar de governar os EUA, líderes, partidos e movimentos como o Bolsonaro, Boris Johnson, Viktor Orban, Matteo Salvini, Marine Le Pen, Vox (Espanha), Chega! (Portugal) ficarão bastante enfraquecidos, o que será ótimo para o mundo.
Aliás, sem o apoio de Trump, alguém como Bolsonaro jamais teria sido eleito presidente do Brasil, sendo que foi Steve Bannon, o estrategista-chefe da campanha de Trump, quem 'assessorou' a campanha de Bolsonaro à presidência.
Sem o governo de Trump para comandar esse movimento neofascista global, nós teremos o retorno a uma situação de maior normalidade, o ar do planeta ficará menos poluído, até literalmente, porque Trump defende o crescimento econômico, mesmo que às custas da destruição da natureza.
Assim, ele é quem exige de Bolsonaro a destruição da Amazônia e do Pantanal, para criar novos negócios em regiões subexploradas economicamente (mineração, agronegócio, criação de gado, etc).
Enquanto isso, Biden já avisou, em um debate nesta campanha eleitoral, que Bolsonaro terá que combater e controlar os incêndios na Amazônia. Biden disse que seu governo irá reunir, junto com outros países, US$ 20 Bilhões para essa finalidade e caso o governo Bolsonaro recuse-se a cooperar neste sentido, então o Brasil poderá vir a ser alvo de sanções comerciais.
Além disso, o governo Trump já tem maioria na Suprema Corte, o que poderá lhe dar cobertura para impor uma série de políticas de características neofascistas, perseguindo e discriminando mulheres, o movimento ambientalista, negros, jovens, imigrantes e LGBTQI.
Além disso, Trump estimula e apoia grupos de paramilitares privados, incluindo grupos terroristas domésticos de Extrema-Direita que o próprio FBI considera como sendo os mais perigosos grupos extremistas que atuam dentro dos EUA, representando uma ameaça muito maior do que qualquer grupo de extremistas islâmicos.
Trump também estimula o discurso de ódio e uma postura agressiva, de estímulo à violência contra cidadãos dos próprios EUA, como os negros, os jovens, as mulheres e os eleitores de Biden.
Trump também estimulou o uso da violência contra as manifestações do 'Black Lives Matter' que ocorreram neste ano e tentou, até mesmo, usar das Forças Armadas para isso, mas não conseguiu apoio dos militares.
Trump também adota posturas e discursos de caráter claramente anti científico, chegando a criticar publicamente o Dr. Anthony Fauci, que comanda a força-tarefa do próprio governo Trump no combate à Pandemia de Covid-19.
Aliás, Trump chegou a acusar Joe Biden de que o mesmo irá ouvir os cientistas caso seja eleito. Biden percebeu o 'erro' de Trump e confirmou que, de fato, irá dar ouvidos aos cientistas em seu governo quando for tratar de Pandemias como a da Covid-19.
Portanto, Trump está criando as condições para a implantação de uma Ditadura Fascista nos EUA, o que o Noam Chomsky denunciou na sua entrevista mais recente (está disponível no site 'Outras Palavras'). Cornel West, principal filósofo e militante socialista do movimento negro nos EUA, disse a mesma coisa.
E se isso vier a acontecer, é claro que tal fenômeno irá se espalhar pelo mundo inteiro.
E o mundo mergulhará numa nova e total Era das Trevas. É para evitar que isso aconteça que Trump precisa ser derrotado. Agora! Já! Antes que seja tarde demais.
Fora, Trump!
Links:
Joe Biden trouxe documentos sobre a Ditadura Militar para o governo Dilma:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54472967
Internacional Progressista: Bernie Sanders, Haddad, Ada Colau, Yanis Varoufakis, Rafael Correa:
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/28/internacional/1546017525_575923.html
A Internacional Progressista e a Carta de Berlim:
Steve Bannon em reunião com líderes e representantes do Neofascismo Globalizado:
https://www.moneytimes.com.br/steve-bannon-oferece-jantar-a-lideres-populistas-internacionais/
Paul Krugman - Trump fez um estrago para os EUA que dificilmente será revertido nas próximas décadas:
https://www.brasil247.com/ideias/trump-matou-a-pax-americana
Eduardo Bolsonaro se declara líder de movimento de Extrema-Direita global na América Latina:
Parlamento do Iraque determina a retirada das tropas dos EUA:
https://www.dw.com/pt-br/parlamento-iraquiano-aprova-expuls%C3%A3o-de-tropas-americanas/a-51893684
Guerra do Iraque, iniciada em 2003, custou US$ 2 Trilhões para os EUA em 10 anos - Custo total poderá chegar a US$ 6 Trilhões:
Trump avisa que irá demitir o Dr. Anthony Fauci se for reeleito:
Matéria sobre o documentário 'Dirty Wars', baseado no livro de Jeremy Scahill:
https://www.youtube.com/watch?v=LJCl3whEfxA
Cornel West: Trump está empurrando os EUA para um regime Fascista:
https://jacobin.com.br/2020/11/cornel-west-trump-esta-empurrando-o-pais-para-o-fascismo-genuino/
General Qasem Soleimani: Herói iraniano que foi assassinado pelo governo Trump:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50981383










Comentários
Postar um comentário