Governo Biden/Kamala será voltado para assuntos de política interna!

Governo Biden/Kamala será voltado para assuntos de política interna! - Marcos Doniseti!

ABC News anuncia a vitória de Joe Biden na eleição presidencial dos EUA, confirmando o que diziam as pesquisas. A vantagem no voto popular já ultrapassa 4,5 milhões, superando Hillary que, em 2016, teve 2,9 milhões de votos a mais do que Trump, mas que perdeu no Colégio Eleitoral. 

Nos discursos de Kamala e do Biden que foram feitos após o anúncio da vitória pelos principais veículos de mídia (CNN, The New York Times, The Washington Post, ABC, NBC, CBS), no qual já falavam como Presidente e Vice eleitos dos EUA, eles não falaram praticamente nada sobre questões de política externa (Guerras, China, Oriente Médio...).

Biden e Kamala focaram totalmente os seus comentários nos problemas internos dos EUA, como o racismo, a Pandemia de Covid-19 e a economia. 

Então, ficou claro que este será o tom do governo de Biden e Kamala, ou seja, teremos um governo preocupado com os principais problemas do país e não com questões de política externa, que deverão ficar em segundo plano, ao menos no primeiro mandato. E se resolverem estes problemas, serão facilmente reeleitos para outro período de governo, governando até 2029.

Essa nova postura de Biden e Kamala representa, claramente, uma mudança significativa em comparação ao que foram os governos anteriores do Partido Democrata, os de Bill Clinton (1993-2001) e de Barack Obama (2009-2017). 

O Partido Democrata passou a ser visto por uma grande parte da população dos EUA, e a partir dos governos de Clinton e Obama, como um partido que se preocupa apenas com a situação das elites bem formadas, bem educadas, liberais e cosmopolitas das grandes cidades e dos estados mais ricos do país (New York, Los Angeles, Philadelphia, Boston, Baltimore, etc) . 

O Partido Democrata passou a ser visto, portanto, como estando muito distante do cidadão comum (médio) das pequenas e médias cidades, das áreas rurais, com menor nível educacional e cultural, de menor renda, que defende valores tradicionais e conservadores (tradição, família, propriedade, religião e bons costumes). 

Essa população também vive em estados mais pobres ou que, anteriormente, eram ricos, mas que empobreceram devido ao processo de Globalização Neoliberal que se desenvolveu nas últimas décadas, e que perderam milhares de empregos bem remunerados e de amplos direitos (previdência, saúde), devido à transferência das indústrias (siderúrgica, automobilística) para outros países, principalmente México e China.

Alexandria Ocasio-Cortez (Nova York) e o senador Bernie Sanders (Vermont) são dois representantes das alas progressistas do Partido Democrata. Ela se reelegeu facilmente para a Câmara dos Representantes e desponta como uma das principais herdeiras do legado político progressista representado por Bernie Sanders, que participou ativamente do movimento pelos Direitos Civis e da luta contra a Guerra da Indochina (Vietnã, Laos e Camboja). 

Estes foram os casos de Michigan, Pennsylvania e Wisconsin, que sempre foram estados tradicionalmente Democratas, mas nos quais o Trump venceu, de maneira surpreendente, em 2016. Foi a vitória nestes três estados que lhe deu a vitória no Colégio Eleitoral 

Foi explorando esse distanciamento ou até abandono destes segmentos, numerosos, da população, que Trump soube conquistar a vitória nestes estados que formavam, antigamente, o chamado 'Cinturão da Ferrugem'. Trump prometeu, em 2016, que iria levar essas indústrias e estes empregos de qualidade de volta para os três estados, mas não cumpriu, o que foi fatal para sua tentativa se reeleger. 

Nesta eleição, o Partido Democrata não se descuidou destes 3 estados e fez uma campanha com forte presença nos mesmo, o que não aconteceu em 2016, quando Hillary imaginou que estes estados já lhe pertenciam. Foi esse 'salto alto' que lhe custou a vitória no Colégio Eleitoral. 

Desta maneira, Biden e Kamala vão procurar resolver a questão da Pandemia de Covid-19, da Economia (dívida pública disparou e o déficit público também), sendo que os EUA já estavam caminhando para uma Recessão ANTES da Pandemia começar. 

Eles também irão priorizar a defesa do Meio Ambiente (já anunciaram que os EUA voltarão para o Acordo de Paris), o combate ao Racismo Estrutural e que irão valorizar a Ciência, tão desprezada por Trump e os negacionistas de Extrema-Direita que o defendem. Biden já disse que os EUA voltarão a integrar a OMS.

Em seu governo o então Presidente Barack Obama se reaproximou de Cuba, chegando a visitar a ilha do Caribe. Mas o governo Trump anulou todos os avanços que ocorreram nas relações entre os dois países. Isos mostra que o governo Trump também foi imperialista. O assassinato do maior herói de guerra do Irã, o general Soleimani, também aconteceu durante o governo Trump, em Janeiro de 2020.

Além disso, Biden se comprometeu em adotar várias das propostas das alas progressistas do Partido Democrata, como aumentar o Salário Mínimo nacional em 100% (para US$ 15/hora), implantar as propostas do Green New Deal, de defesa do meio ambiente, combater o Racismo Estrutural e aumentar a tributação sobre as Corporações e os mais ricos. 

Na questão ambiental, inclusive, Alexandria Ocasio-Cortez liderou uma força-tarefa do Partido Democrata na questão do Meio Ambiente e da qual também participou o ex-Secretário de Estado John Kerry (que foi candidato a Presidente em 2004, quando perdeu para George Bush), da ala mais conservadora e hegemônica do partido. 

Nas questões externas, ficou claro que haverá uma reaproximação com a União Europeia (Biden é pró-UE, enquanto Trump queria destruir a mesma), o que explica a felicidade de governantes como Emmanuel Macron (França), Angela Merkel (Alemanha) e Pedro Sánchez (Espanha) com a vitória de Biden. A chanceler da Alemanha disse que está 'ansiosa para trabalhar com o presidente Biden. Nossa amizade transatlântica é indispensável se quisermos enfrentar os grandes desafios do nosso tempo'. 

Na questão ambiental, então, todos já sabem o que Biden irá fazer: vai enquadrar o governo Bolsonaro e irá exigir do mesmo que, de fato, proteja as florestas e a natureza, com destaque para a Amazônia e para o Pantanal. 

E não adianta o governo Bolsonaro querer mentir a respeito dos dados sobre as queimadas, pois o Sivam é controlado pela Raytheon, uma das empresas que tem maior proximidade com o Pentágono e com o governo dos EUA. Os EUA possuem, portanto, as informações corretas sobre quantas queimadas acontecem no Pantanal e na Amazônia. 

No aspecto político-partidário, Biden e Kamala também vão procurar formar uma ampla frente em defesa da manutenção dos EUA como uma Democracia Liberal-Representativa, com respeito pelas suas instituições e tradições.

O movimento Black Lives Matter mobilizou milhões de pessoas nos EUA e no mundo inteiro na luta contra o Racismo Estrutural. Trump reprimiu duramente as manifestações e tentou usar até as Forças Armadas contra o movimento, mas os militares lhe disseram não. Assim, não foi à toa que Biden conquistou 80% dos votos dos afro-americanos na eleição, o que foi essencial para a sua vitória.

Para atingir este objetivo, Biden (um político centrista e que é aberto ao diálogo com as várias forças políticas e sociais) e Kamala irão procurar isolar os Trumpistas, enfraquecendo rapidamente as alas extremistas do Partido Republicano, aproximando-se das alas moderadas do mesmo, tal como já aconteceu durante a campanha presidencial. 

No Arizona, por exemplo, estado do ex-senador (entre 1987 e 2018) John McCain, muitos Republicanos apoiaram Biden, incluindo a esposa do falecido senador, que foi derrotado por Obama em 2008. Este apoio foi o que levou Biden a vencer neste estado tradicionalmente Republicano e no qual a última vitória dos Democratas tinha sido em 1992, com Bill Clinton. 

Muitos temem, de forma bastante compreensível, que o governo Biden seja uma repetição de outros governos do país e promova uma política externa de caráter imperialista. É claro que isso pode acontecer, sim, pois os EUA são um grande Império que não abre mão de defender os seus interesses estratégicos em escala global.

Porém, a gravidade dos problemas que o governo de Biden e Kamala irá enfrentar e que terá que resolver é tal que eles irão priorizar essas questões de política interna, deixando os assuntos internacionais em segundo plano. 

Entendo que somente em caso de algum ataque em grande escala contra o território dos EUA, ou seja, um novo Pearl Harbor ou um novo 11 de Setembro, é que eles irão se desviar desta rota, o que é muito bom, pois o programa de governo de Biden é o mais progressista da história do Partido Democrata, tal como ressaltou Noam Chomsky, um grande e notório das políticas imperialistas e neofascistas de Trump e dos governos anteriores. 

Portanto, nestas circunstâncias, de grave crise interna (econômica, institucional, de saúde pública, étnica-racial), o governo de Biden e Kamala estará focado em resolver estes problemas dos EUA e deverão deixar o mundo em paz, pelo menos em seu primeiro mandato.

Que assim seja. 

O povo dos EUA demitiu Trump do cargo de Presidente. Trump foi derrotado no voto popular nas duas vezes em que se candidatou, perdendo para Hillary por 2,9 milhões de votos, e agora para Biden, por mais de 4,5 milhões de votos. Se não fosse pelo Colégio Eleitoral, Trump jamais teria sido eleito Presidente dos EUA.

Links:

Biden diz que irá promover a reunificação interna dos EUA:

https://g1.globo.com/mundo/eleicoes-nos-eua/2020/noticia/2020/11/07/joe-biden-e-kamala-harris-discursam-pela-1a-vez-apos-declarados-eleitos.ghtml

Íntegra do discurso da vitória de Joe Biden:

https://www.otempo.com.br/mundo/leia-a-integra-do-discurso-da-vitoria-de-joe-biden-como-presidente-eleito-1.2409758

Íntegra do discurso da vitória de Kamala Harris:

https://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2020-11-08/leia-o-primeiro-discurso-de-kamala-harris-como-vice-presidente-dos-eua.html

Vantagem de Biden supera 4,5 milhões de votos; sua votação já passou de 75,4 milhões de votos, a maior da história dos EUA:

https://www.google.com.br/search

Líderes mundiais parabenizam Biden pela vitória:

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54857352

Vice-gerente de campanha de Biden reafirma o compromisso deste em adotar propostas progressistas em seu governo: 

https://thehill.com/homenews/campaign/525066-biden-campaign-manager-says-going-to-make-good-on-incredibly-progressive

Procurador-Geral do governo Trump disse que assassinato do general Soleimani foi uma ação 'legítima':

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/01/13/acao-que-matou-general-soleimani-foi-legitima-diz-procurador-geral-dos-eua.ghtml

Trump reduziu os impostos dos mais ricos e das Corporações:

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/26/internacional/1493225181_581649.html

Stacey Abrams e a vitória de Biden na Georgia, estado tradicionalmente Republicado:

https://brasil.elpais.com/internacional/2020-11-08/stacey-abrams-a-arma-secreta-do-exito-democrata-na-georgia.html

Noam Chomsky: O mundo precisa da derrota de Trump!

https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/chomsky-o-mundo-precisa-da-derrota-de-trump/

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