Governo Biden/Kamala será voltado para assuntos de política interna! - Marcos Doniseti!
Nos discursos de Kamala e do Biden que foram feitos após o anúncio da vitória pelos principais veículos de mídia (CNN, The New York Times, The Washington Post, ABC, NBC, CBS), no qual já falavam como Presidente e Vice eleitos dos EUA, eles não falaram praticamente nada sobre questões de política externa (Guerras, China, Oriente Médio...).
Biden e Kamala focaram totalmente os seus comentários nos problemas internos dos EUA, como o racismo, a Pandemia de Covid-19 e a economia.
Então, ficou claro que este será o tom do governo de Biden e Kamala, ou seja, teremos um governo preocupado com os principais problemas do país e não com questões de política externa, que deverão ficar em segundo plano, ao menos no primeiro mandato. E se resolverem estes problemas, serão facilmente reeleitos para outro período de governo, governando até 2029.
Essa nova postura de Biden e Kamala representa, claramente, uma mudança significativa em comparação ao que foram os governos anteriores do Partido Democrata, os de Bill Clinton (1993-2001) e de Barack Obama (2009-2017).
O Partido Democrata passou a ser visto por uma grande parte da população dos EUA, e a partir dos governos de Clinton e Obama, como um partido que se preocupa apenas com a situação das elites bem formadas, bem educadas, liberais e cosmopolitas das grandes cidades e dos estados mais ricos do país (New York, Los Angeles, Philadelphia, Boston, Baltimore, etc) .
O Partido Democrata passou a ser visto, portanto, como estando muito distante do cidadão comum (médio) das pequenas e médias cidades, das áreas rurais, com menor nível educacional e cultural, de menor renda, que defende valores tradicionais e conservadores (tradição, família, propriedade, religião e bons costumes).
Essa população também vive em estados mais pobres ou que, anteriormente, eram ricos, mas que empobreceram devido ao processo de Globalização Neoliberal que se desenvolveu nas últimas décadas, e que perderam milhares de empregos bem remunerados e de amplos direitos (previdência, saúde), devido à transferência das indústrias (siderúrgica, automobilística) para outros países, principalmente México e China.
Estes foram os casos de Michigan, Pennsylvania e Wisconsin, que sempre foram estados tradicionalmente Democratas, mas nos quais o Trump venceu, de maneira surpreendente, em 2016. Foi a vitória nestes três estados que lhe deu a vitória no Colégio Eleitoral
Foi explorando esse distanciamento ou até abandono destes segmentos, numerosos, da população, que Trump soube conquistar a vitória nestes estados que formavam, antigamente, o chamado 'Cinturão da Ferrugem'. Trump prometeu, em 2016, que iria levar essas indústrias e estes empregos de qualidade de volta para os três estados, mas não cumpriu, o que foi fatal para sua tentativa se reeleger.
Nesta eleição, o Partido Democrata não se descuidou destes 3 estados e fez uma campanha com forte presença nos mesmo, o que não aconteceu em 2016, quando Hillary imaginou que estes estados já lhe pertenciam. Foi esse 'salto alto' que lhe custou a vitória no Colégio Eleitoral.
Desta maneira, Biden e Kamala vão procurar resolver a questão da Pandemia de Covid-19, da Economia (dívida pública disparou e o déficit público também), sendo que os EUA já estavam caminhando para uma Recessão ANTES da Pandemia começar.
Eles também irão priorizar a defesa do Meio Ambiente (já anunciaram que os EUA voltarão para o Acordo de Paris), o combate ao Racismo Estrutural e que irão valorizar a Ciência, tão desprezada por Trump e os negacionistas de Extrema-Direita que o defendem. Biden já disse que os EUA voltarão a integrar a OMS.
Além disso, Biden se comprometeu em adotar várias das propostas das alas progressistas do Partido Democrata, como aumentar o Salário Mínimo nacional em 100% (para US$ 15/hora), implantar as propostas do Green New Deal, de defesa do meio ambiente, combater o Racismo Estrutural e aumentar a tributação sobre as Corporações e os mais ricos.
Na questão ambiental, inclusive, Alexandria Ocasio-Cortez liderou uma força-tarefa do Partido Democrata na questão do Meio Ambiente e da qual também participou o ex-Secretário de Estado John Kerry (que foi candidato a Presidente em 2004, quando perdeu para George Bush), da ala mais conservadora e hegemônica do partido.
Nas questões externas, ficou claro que haverá uma reaproximação com a União Europeia (Biden é pró-UE, enquanto Trump queria destruir a mesma), o que explica a felicidade de governantes como Emmanuel Macron (França), Angela Merkel (Alemanha) e Pedro Sánchez (Espanha) com a vitória de Biden. A chanceler da Alemanha disse que está 'ansiosa para trabalhar com o presidente Biden. Nossa amizade transatlântica é indispensável se quisermos enfrentar os grandes desafios do nosso tempo'.
Na questão ambiental, então, todos já sabem o que Biden irá fazer: vai enquadrar o governo Bolsonaro e irá exigir do mesmo que, de fato, proteja as florestas e a natureza, com destaque para a Amazônia e para o Pantanal.
E não adianta o governo Bolsonaro querer mentir a respeito dos dados sobre as queimadas, pois o Sivam é controlado pela Raytheon, uma das empresas que tem maior proximidade com o Pentágono e com o governo dos EUA. Os EUA possuem, portanto, as informações corretas sobre quantas queimadas acontecem no Pantanal e na Amazônia.
No aspecto político-partidário, Biden e Kamala também vão procurar formar uma ampla frente em defesa da manutenção dos EUA como uma Democracia Liberal-Representativa, com respeito pelas suas instituições e tradições.
Para atingir este objetivo, Biden (um político centrista e que é aberto ao diálogo com as várias forças políticas e sociais) e Kamala irão procurar isolar os Trumpistas, enfraquecendo rapidamente as alas extremistas do Partido Republicano, aproximando-se das alas moderadas do mesmo, tal como já aconteceu durante a campanha presidencial.
No Arizona, por exemplo, estado do ex-senador (entre 1987 e 2018) John McCain, muitos Republicanos apoiaram Biden, incluindo a esposa do falecido senador, que foi derrotado por Obama em 2008. Este apoio foi o que levou Biden a vencer neste estado tradicionalmente Republicano e no qual a última vitória dos Democratas tinha sido em 1992, com Bill Clinton.
Muitos temem, de forma bastante compreensível, que o governo Biden seja uma repetição de outros governos do país e promova uma política externa de caráter imperialista. É claro que isso pode acontecer, sim, pois os EUA são um grande Império que não abre mão de defender os seus interesses estratégicos em escala global.
Porém, a gravidade dos problemas que o governo de Biden e Kamala irá enfrentar e que terá que resolver é tal que eles irão priorizar essas questões de política interna, deixando os assuntos internacionais em segundo plano.
Entendo que somente em caso de algum ataque em grande escala contra o território dos EUA, ou seja, um novo Pearl Harbor ou um novo 11 de Setembro, é que eles irão se desviar desta rota, o que é muito bom, pois o programa de governo de Biden é o mais progressista da história do Partido Democrata, tal como ressaltou Noam Chomsky, um grande e notório das políticas imperialistas e neofascistas de Trump e dos governos anteriores.
Portanto, nestas circunstâncias, de grave crise interna (econômica, institucional, de saúde pública, étnica-racial), o governo de Biden e Kamala estará focado em resolver estes problemas dos EUA e deverão deixar o mundo em paz, pelo menos em seu primeiro mandato.
Que assim seja.
Links:
Biden diz que irá promover a reunificação interna dos EUA:
Íntegra do discurso da vitória de Joe Biden:
Íntegra do discurso da vitória de Kamala Harris:
Vantagem de Biden supera 4,5 milhões de votos; sua votação já passou de 75,4 milhões de votos, a maior da história dos EUA:
https://www.google.com.br/search
Líderes mundiais parabenizam Biden pela vitória:
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54857352
Vice-gerente de campanha de Biden reafirma o compromisso deste em adotar propostas progressistas em seu governo:
Procurador-Geral do governo Trump disse que assassinato do general Soleimani foi uma ação 'legítima':
Trump reduziu os impostos dos mais ricos e das Corporações:
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/26/internacional/1493225181_581649.html
Stacey Abrams e a vitória de Biden na Georgia, estado tradicionalmente Republicado:
Noam Chomsky: O mundo precisa da derrota de Trump!
https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/chomsky-o-mundo-precisa-da-derrota-de-trump/





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