Bolívia: Por que o MAS derrotou o governo golpista depois de apenas 1 ano? E porque é difícil reproduzir, no Brasil, o que aconteceu na Bolívia?

Bolívia: Por que o MAS derrotou o governo golpista depois de apenas 1 ano? E porque é difícil reproduzir, no Brasil, o que aconteceu na Bolívia? - Marcos Doniseti!

Evo Morales e Luis Arce: Ambos foram eleitos Presidente diretamente pelo povo boliviano, mas o primeiro foi derrubado por um Golpe de Estado reacionário e direitista. Mas a luta do povo boliviano, que se organiza em fortes movimentos sociais de base, derrotou os golpistas e Arce será o novo Presidente do país. O governo de Evo Morales (2006-2019) reduziu o percentual de pobres de 60% para 37% e o PIB do país aumentou de US$ 9,5 Bilhões para US$ 40,8 Bilhões. 

Muitos ficaram surpresos com a rapidez com que as forças Progressistas da Bolívia derrotaram o governo golpista, liderado por Jeanine Anez. 

A situação brasileira atual, em todos os aspectos, é MUITO diferente daquela que existe Bolívia e é exatamente isso que irei comentar a seguir, apontando quais são as diferenças principais entre os dois países. 

1) Na Bolívia, a Grande Mídia Reacionária é bem mais fraca do que no Brasil!

Na Bolívia não existe uma 'Rede Globo', 'Folha', 'Veja' e um 'Estadão'.

Logo, na Bolívia inexiste uma Grande Mídia mentirosa e manipuladora como a que temos aqui e que tenha ficado 15 anos massacrando as lideranças, partidos e movimentos progressistas por meio de maciças campanhas de Fake News como aquelas que tivemos no Brasil (ex: 'O PT quebrou o Brasil'; 'O governo do PT é uma Ditadura');

2) Na Bolívia, não tivemos uma operação Lava Jato!

Na Bolívia não tivemos uma operação Lava Jato que perseguisse judicialmente e criminalizasse as lideranças e os partidos políticos e movimentos sociais progressistas e que levasse o seu maior líder para a prisão de forma absolutamente injusta, sem qualquer prova que justificasse a mesma;   

3) O Golpe de Estado na Bolívia ocorreu CONTRA a vontade da maioria da população!

O Golpe de 2019 ocorreu após uma eleição na qual Evo Morales foi o grande vitorioso. Não teve fraude nenhuma. 

Enquanto isso, Dilma foi derrubada com maciço apoio popular, principalmente das camadas médias e da burguesia. 

As camadas populares, de baixa renda, por sua vez, não saíram às ruas contra o governo Dilma, mas também se omitiram na defesa do mesmo, apesar do fato de que foram muito beneficiadas pelas políticas públicas adotadas pelos governos de Lula e Dilma (Aumento real do salário mínimo, Minha Casa Minha Vida, Luz Para Todos, Bolsa-Família, ProUni, ampliação do FIES, etc).  

O Golpe de Estado de 2019, que derrubou Evo Morales, o legítimo Presidente da Bolívia, foi derrotado nas ruas e nas urnas pelo povo boliviano. A vitória foi tão avassaladora que, agora, o governo dos EUA, o BID e a OEA reconheceram a vitória de Arce e se propõe a colaborar com o seu governo. 

4) Na Bolívia, os trabalhadores são fortemente organizados e lutam sem parar!

Na terra de Evo Morales, os trabalhadores, das áreas rurais e urbanas, são fortemente organizados e mobilizados em sindicatos, movimentos de camponeses, de mulheres, etc. 

Assim, os trabalhadores e os pobres bolivianos possuem um grau bastante elevado de consciência de classe. E o MAS é um tipo de partido-movimento, que está umbilicalmente ligado aos principais movimentos sociais do país. 

Logo, o MAS (Movimento para o Socialismo) é a expressão política e eleitoral destes movimentos sociais. Então, ele está sempre tendo que se entender com os movimentos sociais de extração popular antes de tomar decisões. 

E neste único ano de governo golpista, o MAS e os movimentos sociais bolivianos mantiveram uma pressão popular constante, com inúmeras manifestações populares, greves, protestos, exigindo o retorno do país à Democracia.

Assim, foi a capacidade de luta e de mobilização dos trabalhadores (as) bolivianos (as) que levou à realização da eleição e à vitória folgada de Luis Arce (MAS). Democracia não cai do céu. Ela precisa ser conquistada. 

Até em função disso, na Bolívia, os tais 'Pobres de Direita' são uma raridade. Tais pessoas são chamadas assim porque defendem os interesses do Grande Capital e não deles mesmos.

Enquanto isso, no Brasil esses 'Pobres de Direita' existem em grande número, pois eles não possuem consciência de classe e chegam ao ponto de sequer se considerarem pobres. Muitos se dizem de classe média ou se definem como 'empreendedores individuais', como se fizessem parte da Burguesia. Mas não fazem. 

Enquanto isso, na Bolívia, os pobres sabem que são pobres e estão organizados e mobilizados para superar a situação de pobreza na qual eles vivem há séculos. Eles sabem quem são os responsáveis (os grandes capitalistas) pela pobreza e miséria na qual sempre viveram e não pensam que seriam da classe média da burguesia.  

Portanto, os pobres bolivianos constituem um vasto proletariado que é dotado de consciência de classe, que foi desenvolvida por meio de décadas de lutas operárias, camponesas, de mulheres, indígenas, jovens. 

No Brasil, os movimentos sociais de perfil progressista existem, mas são bem mais fracos e bem menos enraizados na sociedade do que na Bolívia. E os partidos políticos com os quais eles possuem ligação possuem uma certa autonomia em relação aos mesmos, o que gera frequentes conflitos entre os movimentos sociais e os partidos progressistas.  

Desta maneira, o nível de consciência de classe dos trabalhadores brasileiros é muito baixo;

5) Na Bolívia, as forças Progressistas se unificaram e lançaram apenas um candidato à Presidência (Luis Arce, do MAS)! 

No Brasil, as forças Progressistas jamais se unificaram, nem durante os governos Lula e Dilma, nem depois do Golpe contra o governo Dilma, e tampouco agora, durante o governo Bolsonaro. Elas permanecem divididas, o que as enfraquecem fortemente na hora de enfrentar as fortes, organizadas e unidas Direita e Extrema-Direita do país.

6) Na Bolívia não existe um Ciro Gomes para dividir e enfraquecer as Forças Progressistas!

Na Bolívia, também não temos um político como Ciro Gomes que, depois de apoiar os governos Lula e Dilma por muitos anos, acabou passando para o outro lado da luta política e social, aproximando-se do DEM e de partidos conservadores e de perfil antipetista, o que ele já fez durante a campanha presidencial de 2018, quando tentou fazer aliança com os partidos Neoliberais e Direitistas do chamado 'Centrão'. 

A contagem rápida apontou que Luis Arce, do MAS, será eleito com cerca de 52,3% dos votos, aplicando uma surra histórica nos setores reacionários e neofascistas da Bolívia.

Ciro também vive atacando violentamente aos dirigentes do PT e ao ex-Presidente Lula, com acusações falsas e vazias, às quais ele jamais provou, dividindo e enfraquecendo ainda mais as forças e o eleitorado Progressista do país.

Na Bolívia, para felicidade do povo boliviano e para tristeza das forças Reacionárias, não existe um Ciro Gomes;

7) Na Bolívia, as forças da Direita e da Extrema-Direita se dividiram entre 5 candidatos na eleição presidencial, o que as enfraqueceu!

Na Bolívia, as forças golpistas foram divididas para a eleição.

Assim, Luis F. Camacho, o principal líder da Extrema-Direita, da rica região de Santa Cruz, recusou-se a apoiar a candidatura de Carlos Mesa, representante da Direita Tradicional, que era o candidato mais forte das forças conservadoras e tradicionais bolivianas. 

A ausência de um acordo entre Mesa e Camacho, principalmente, acabou sendo fatal para ambos, que acabaram facilmente derrotados por Luis Arce, do MAS. O resultado disso se viu nas urnas, com Mesa conquistando 31% dos votos e Camacho alcançando 15,4% dos votos, contra os 52,4% que são previstos para Luis Arce (MAS).

Obs: Apurados 68,72% dos votos, Arce tem 51,5%, Mesa tem 31% e Camacho tem 15,3%.

Aqui no Brasil aconteceu exatamente o contrário na eleição de 2018, quando a Direita Tradicional aderiu em peso à candidatura de Bolsonaro, e isso aconteceu já no primeiro turno. Por esse motivo é que o candidato da Extrema-Direita quase liquidou a eleição no primeiro turno.

E agora, nas eleições municipais, os principais partidos Progressistas brasileiros também fo

8) Conclusão: O Brasil não é a Bolívia!

Logo, nestas circunstâncias e neste momento, é praticamente impossível reproduzir no Brasil o que aconteceu na Bolívia, pois os fatores que tornaram possível essa vitória consagradora do MAS simplesmente são inexistentes em nosso país.

Patricia Arce Guzman foi agredida e humilhada pelos Golpistas assassinos e corruptos no final de 2019. Porém, agora ela foi eleita Senadora com uma grande votação. Chorem, Golpistas Vende-Pátrias! 

Links:

Apuração oficial:

https://computo.oep.org.bo/

Vitória de Luis Arce (MAS) na eleição boliviana é arrasadora:

https://www.brasil247.com/mundo/luis-arce-do-mas-vence-eleicoes-presidenciais-na-bolivia-segundo-dados-nao-oficiais

Mesmo com intimidação, MAS/Arce/Evo Morales conquistam vitória arrasadora:

https://revistaforum.com.br/colunistas/anaprestes/apesar-da-intimidacao-mas-partido-de-evo-morales-tem-vitoria-acachapante-na-bolivia/

Patricia Arcez Guzman, prefeita do MAS que foi agredida e humilhada na época do Golpe, se elege Senadora: 

https://revistaforum.com.br/noticias/prefeita-humilhada-durante-golpe-na-bolivia-e-eleita-senadora/

Carlos Mesa admite derrota para Luis Arce, do MAS:

https://revistaforum.com.br/global/carlos-mesa-admite-derrota-na-bolivia-luiz-camacho-articulador-do-golpe-nao-se-pronunciou/

Quem é Luis Arce, novo Presidente da Bolívia:

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54597201

Luis Arce e David Choquehuanca foram os grandes vencedores da eleição presidencial de 18/10/2020 na Bolívia.


Vitória do MAS mostra a força das organizações populares:

https://www.brasil247.com/blog/virada-na-bolivia-mostra-forca-das-organizacoes-populares

Governo dos EUA parabeniza Luis Arce pela vitória na eleição:

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