Bolsonarismo é resultado direto da antipolítica que triunfou a partir de Junho de 2013!

Bolsonarismo é resultado direto da antipolítica que triunfou a partir de Junho de 2013! - Marcos Doniseti!
A defesa da libertação de Lula, contra quem não se provou coisa alguma, é fundamental para que as forças Progressistas possam ter alguma chance de, novamente, voltar a governar o país, reconstruindo o mesmo.

O presidente Lula disse, corretamente, em entrevista ao jornal francês 'Le Monde', que o triunfo de Bolsonaro na eleição de 2018 foi resultado da negação da política.

Escrevi e publiquei um texto em meu antigo blog (em um texto intitulado 'Mussolini vem aí'), no final de 2015, dizendo exatamente isso, ou seja, que o ódio à classe política resultaria na eleição de um Presidente com o discurso da antipolítica e de fortes tons autoritários, o que está longe de ser novidade no Brasil.

Afinal, Jânio Quadros (em 1960) e Collor (1989) também venceram eleições presidenciais com o mesmo discurso da antipolítica e de defesa do autoritarismo. E Infelizmente a minha 'previsão' acabou se confirmando com a vitória de Bolsonaro em 2018.

É bom ressaltar que essa previsão que eu fiz na época se baseava não em búzios ou em bola de cristal, mas nos resultados de uma pesquisa do Ibope daquela época que mostrava um altíssimo índice de rejeição a todas as principais lideranças políticas do país (Lula, FHC, Alckmin, Serra, Ciro, Marina...), que possuíam uma rejeição de 60% ou mais.

Com isso, eu disse que o ódio à classe política iria resultar na eleição presidencial, em 2018, de um candidato que se apresentasse como sendo um antipolítico que difundiria um discurso de ódio e que teria um tom fortemente autoritário, ou seja, teríamos a eleição de um presidente com um perfil claramente fascista. Na época eu disse que havia dois sérios candidatos a assumir a condiçãpo de candidato de antipolítica, que eram Bolsonaro e Moro.

E foi exatamente isso que aconteceu.

Afinal, tem certas coisas que são muito fáceis de se prever e uma delas é justamente que o ódio à atividade política gera o Fascismo. Basta conhecer um pouco sobre história para se constatar isso.

Então, é por isso que os grandes responsáveis pela ascensão de Bolsonaro ao poder foram aqueles que, principalmente a partir de Junho de 2013, aderiram ao discurso da antipolítica, criminalizando os governos de coalizão e a atividade política como um todo.


O discurso da antipolítica tem um componente fortemente autoritário e é historicamente forte no Brasil. Esse discurso sempre esteve presente em nosso país. Para se constatar isso basta estudar a respeito do Integralismo, da Ditadura do 'Estado Novo' e os motivos que levaram às vitórias de Jânio Quadros (1960) e Fernando Collor (1989).

E é justamente em épocas de grave crise política, econômica e social que esse discurso acaba vindo a tona e ganha força, atraindo parcelas expressivas da população. Foi assim com o Integralismo, durante a década de 1930, que se tornou o maior movimento de massas da história do país até aquela época e que atraiu grande parte da classe média e da intelectualidade brasileira.

Uniformes, braço direito estendido... O Integralismo foi a versão brasileiro do Nazifascismo europeu e também defendia um discurso marcado pela antipolítica e fortemente autoritário. Na época os Integralistas conseguiram um expressivo apoio popular, principalmente entre a classe média e a intelectualidade.

Durante os governos de Lula e Dilma e, até Junho de 2013, o discurso fascista, autoritário e retrógrado da antipolítica (da defesa da Ditadura Militar, por exemplo) estava submerso, meio que escondido, ficando restrito a setores pequenos e marginalizados do processo político brasileiro, principalmente entre grupos e movimentos da Direita Radical.

Mas a partir das manifestações de Junho de 2013 tais movimentos e grupos da Extrema-Direita ganharam visibilidade e conquistaram milhões de adeptos, o que irá resultar na ascensão do Bolsonarismo. 

Com isso, os grupos da Extrema-Direita acabaram se tornando a tendência dominante entre o eleitorado de Direita, superando a Direita Tradicional, cujas lideranças se enfraqueceram fortemente com as denúncias que os atingiram. Para estes grupos da Extrema-Direita, já devidamente massificados, o que faltava era encontrar alguém que encampasse o seu discurso, as suas ideias e as suas propostas.

E este acabou sendo Bolsonaro, que era um obscuro e pouco atuante deputado federal de Direita e que sempre atuou preocupado apenas em defender um segmento específico, os militares, entre os quais conquistava os votos necessários para se eleger, bem como para eleger seus filhos. 

Portanto, o Bolsonarismo é o filho principal e resultado direto das manifestações de Junho de 2013 e a ascensão de Bolsonaro aos primeiros lugares das pesquisas eleitorais, para a eleição presidencial de 2018, foi consequência deste caldo de cultura política de tons fortemente autoritários e de discurso de ódio à política tradicional que se fortaleceu após Junho de 2013. 

Esse discurso retrógrado da antipolítica condena os diálogos e os acordos que são feitos entre diferentes partidos e movimentos, pois nenhum partido político brasileiro, sozinho, consegue sequer chegar perto  de conquistar a maioria absoluta.

Além disso, a Constituição brasileira dividiu claramente os poderes e atribuições e foi escrita de tal forma que obriga a que tenhamos um diálogo permanente entre os poderes do país (Executivo, Legislativo e Judiciário, Ministério Público).

Sem esse diálogo entre as instituições e os poderes o país se torna ingovernável, ainda mais que no Congresso Nacional temos quase 30 partidos políticos representados e os políticos podem trocar de legenda quando assim o desejarem.

Em função do crescente apoio popular ao discurso da antipolítica, e que  as lideranças progressistas se enfraqueceram em função da operação Lava Jato que foi encampada pela Grande Mídia, que via nos ataques a Lula, Dilma e aos partidos e movimentos progressistas.

Com a forte rejeição das lideranças políticas tradicionais (seja das 'Direitas'', seja das 'Esquerdas') o crescimento destes grupos de Extrema-Direita tornou-se explosivo com a campanha para derrubar o governo Dilma.

Desta maneira, não foi surpresa nenhuma para mim quando Bolsonaro começou a crescer nas pesquisas e deixou para trás as candidaturas dos partidos da Direita Tradicional (PSDB, DEM, MDB) e passou a ser visto pelo eleitorado direitista do país (que sempre girou em torno de 35% a 40% do total) como o candidato com maiores condições de derrotar as candidaturas das forças Progressistas (PT, PSOL).
Manifestantes, em Junho de 2013, diziam que estavam mudando o país. 2013 foi o ano em que o Brasil teve a menor taxa de desemprego da sua história (taxa média anual de 4,8%). Agora o Brasil conta com mais de 17,3 milhões de desempregados, um recorde histórico. Realmente, o Brasil mudou bastante, mas para pior, muito pior... Parabéns aos envolvidos.

Enquanto isso, Ciro tentou ser um meio-termo entre os dois pólos dominantes da política brasileira (Direita X Esquerda), tentando atrair partidos e lideranças dos dois segmentos para a sua candidatura, apresentando-se como se fosse um 'Macron' brasileiro (o que ele mesmo que queria fazer em entrevista concedida ao 'El País Brasil'). 

Ciro tentou obter o apoio do PT, PCdoB, PSB, PSOL e, também, dos partidos que integram o 'Centrão' (que apoiaram a derrubada de Dilma), tudo ao mesmo tempo.
Mas a sua incapacidade de dialogar e o perfil fortemente autoritário do discurso de Ciro acabaram afastando a todos. E quando decidiu ir embora do país depois que não conseguiu chegar  ao segundo turno, Ciro diminuiu ainda mais a sua força política e eleitoral, pois decepcionou muitos eleitores seus que votaram em Haddad no segundo turno. 

Ciro claramente escolheu um caminho próprio, se isolando das demais forças Progressistas, procurando se tornar o principal nome do segmento antilulista e do antipetista, mas dificilmente será bem sucedido, pois Bolsonaro e um candidato originário da Direita Tradicional é que irão lutar para conquistar esse eleitorado, que reúne cerca de 35% a 40% do total, mesmo percentual que vota em um candidato das forças Progressistas. 

Atualmente, o que vemos é uma queda significativa na popularidade de Bolsonaro, porém este ainda consegue segurar cerca de 30% de apoio, o que lhe permitiria ir para o segundo turno em 2022. 

As forças Progressistas (PT, PSOL, PCdoB e segmentos do PDT e do PSB) devem procurar se unificar já para as próximas eleições municipais, a fim de se fortalecerem para as eleições nacionais de 2022, embora os contextos políticos locais, de cada cidade, sejam muito variados e são os que determinam o resultado das mesmas.

Jânio Quadros e Fernando Collor: Até o gestual era semelhante. Ambos surfaram na onda do sentimento de negação da política para se eleger Presidente e os dois fracassaram, sem conseguir terminar os seus mandatos.

Link:


Brasil encerra 2013 com a menor taxa de desemprego da história:

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