Argentina: Perón, o Peronismo, o Kirchnerismo, Macri e as eleições de
2019! - Marcos Doniseti!
A imensa popularidade de Juan D. Perón, principalmente entre a classe operária e os pobres, não se deve apenas em função do seu 'carisma', mas também pelo fato de que tomou uma série de medidas que beneficiaram aos trabalhadores argentinos, tal como Vargas fez no Brasil, criando uma vasta legislação social, trabalhista e previdenciária.
Seu governo também reconheceu o direito de voto para as mulheres e ampliou de maneira significativa o acesso da população a serviços de saúde, educação e de saneamento básico.
É bom lembrar, também, que o Nazifascismo teve muitos simpatizantes pelo mundo afora, e não apenas na Argentina, mas depois da revelação dos crimes e atrocidades que foram cometidas por Hitler e Mussolini, e que foram reveladas após o fim da Guerra, muitos fizeram questão de esquecer disso.
Entre estes simpatizantes de Hitler pelo mundo, nós tivemos o Rei Jorge VIII da Grã-Bretanha (que foi obrigado a abdicar do trono em função disso), Henry Ford (autor de um livro antissemita que influenciou Hitler, que o cita no 'Mein Kampf') e Charles Lindbergh, líder do movimento nazista dos EUA (chamado 'America First') que promoveu imensas manifestações que lotaram o Madison Square Garden em defesa da Alemanha Nazista.
O movimento ‘America First’ defendia que os EUA ficassem de fora da Guerra, com o objetivo de facilitar a vitória da Alemanha Nazista, mas chegou ao fim depois do ataque japonês à Pearl Harbor e da declaração de guerra de Hitler contra os EUA em Dezembro de 1941.
Na França, durante o governo da Frente Popular (1936-1938), que reunia as forças de Esquerda do país (socialistas, radicais e comunistas), o lema da Direita francesa no período foi 'Antes Hitler, do que a Frente Popular'. E o principal líder da Extrema-Direita francesa (François de la Rocque, líder do Partido Social Francês), caminhava para vencer a eleição nacional que iria se realizar em 1940, mas a invasão alemã impediu que a eleição acontecesse.
E durante a ocupação nazista da França, a maior parte dos franceses colaborou com os invasores alemães. A Resistência, de fato, foi obra de uma pequena minoria e somente se tornou relevante nos primeiros meses de 1944, pouco antes dos Aliados invadirem a França e expulsarem os nazistas.
No Brasil, a maior parte dos integrantes do governo ditatorial do 'Estado Novo' (1937-1945) também era constituído de simpatizantes do Nazifascismo e, até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha Nazista era o maior parceiro comercial do Brasil. E muitos líderes políticos brasileiros que se diziam liberais também chegaram a elogiar Hitler e Mussolini.
E a "Ação Integralista Brasileira", movimento político de características inteiramente nazifascistas, chegou a ser o maior movimento de massas da história brasileira até metade do século XX, atraindo uma grande parte da intelectualidade e da classe média brasileiras, sendo que Plínio Salgado foi o seu principal líder. Em Maio de 1938, apoiado e financiado pelo regime nazista, os Integralistas tentaram derrubar o governo de Vargas por meio de um Golpe de Estado, mas que acabou fracassando.
Na época, os EUA tiveram que promover fortes pressões sobre o governo brasileiro (como a ameaça de invadir e ocupar o Nordeste brasileiro) e aceitar fazer concessões relevantes para o Brasil a fim de que o mesmo entrasse na Guerra ao seu lado, contra o Eixo,, embora a afinidade ideológica entre os Conservadores Autoritários que davam sustentação intelectual à ditadura direitista do 'Estado Novo' fosse muito maior com o Nazifascismo.
Assim, os EUA forneceram capital e tecnologia para que o governo brasileiro pudesse construir a CSN e criar a Vale do Rio Doce, o que começou já em 1942, e daí conseguiram convencer o Brasil a lutar ao lado dos Aliados na Guerra.
E o Papa Pio XII (1939-1958) também evitou de denunciar a existência dos campos de extermínio nazistas na Europa, embora a Igreja Católica tivesse amplo conhecimento dos mesmos, pois entendia que a prioridade para a Igreja Católica era derrotar a URSS e não o Nazifascismo.
Aliás, a Igreja Católica foi essencial para que Mussolini pudesse governar a Itália entre Novembro de 1922 e Julho de 1943. Sem este apoio, o regime fascista não teria durado por tanto tempo.
3) 'Perón apoiou a Ditadura de Franco na Espanha, que os EUA impediram de entrar na ONU’!
Meus Comentários!
Não foi apenas Perón que apoiou Franco.
No Pós-Guerra, a Espanha Franquista continuou sendo uma ditadura de Direita Tradicional e profundamente Reacionária, que contava com o apoio da Igreja Católica, dos Latifundiários, dos Monarquistas e do Exército. Aliás, a Espanha Franquista foi a mais brutal, repressiva e sanguinária Ditadura europeia do Pós-Guerra, pois Franco continuou perseguindo e eliminando todos aqueles que lutaram e defenderam os Republicanos durante a Guerra Civil (1936-1939).
Franco tinha apoiado a Alemanha Nazista e a Itália Fascista na Segunda Guerra Mundial. E Franco somente venceu a Guerra Civil porque contou com o apoio decisivo da Alemanha Nazista (vide a 'Legião Condor' alemã que destruiu a cidade basca de Guernica em Abril de 1937) e da Itália Fascista (Mussolini enviou 70 mil 'voluntários' para lutar ao lado das forças franquistas na Guerra Civil entre 1936-1939).
Além disso, Franco também contou com o forte e decisivo apoio do governo do Partido Conservador na Grã-Bretanha, que vetou a ajuda internacional ao governo Republicano espanhol em nome de uma inexistente 'neutralidade' da comunidade internacional.
E o governo britânico fez isso mesmo sabendo que o governo Republicano espanhol havia sido eleito democraticamente e que as forças Franquistas tentaram derrubar este governo eleito pelo povo por meio de um Golpe de Estado, que acabou fracassando, o que deu início à Guerra Civil Espanhola, que devastou o país e no qual morreram cerca de 500 mil pessoas.
E as forças Franquistas também receberam um significativo apoio dos EUA. Assim, a Ford e a GM forneceram milhares de veículos para as forças franquistas e as petroleiras dos EUA forneceram grande quantidade de combustíveis para as tropas lideradas pelo brutal e sanguinário Franco.
E mesmo assim alguns milhares de Republicanos espanhóis lutaram sob o comando das forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial, justamente porque acreditavam que, após derrotar as ditaduras de Hitler e Mussolini, os EUA e a Grã-Bretanha iriam continuar a guerra e também derrubariam a Ditadura Reacionária de Franco, mas isso não aconteceu, frustrando aos Republicanos da terra de García Lorca, poeta que foi assassinado pelos franquistas em 18/08/1936.
E no Pós-Guerra, mesmo depois de ter contado com esse apoio dos Republicanos, o governo dos EUA assinaram, em 1953, um amplo acordo com a Ditadura Franquista, o que permitiu à Espanha Franquista continuar existindo mesmo depois da derrota da Alemanha Nazista e da Itália Fascista na Segunda Guerra Mundial, de quem foi aliada durante a Guerra.
Esse acordo de 1953 abriu a economia da Espanha para investimentos dos EUA, e de outros países capitalistas, e fez a Ditadura Franquista se tornar aliada do bloco Capitalista na Guerra Fria contra a URSS e o Bloco Soviético.
Portanto, foram os EUA que permitiram que a Ditadura Franquista sobrevivesse no Pós-Guerra e não o governo democraticamente eleito de Juan D. Perón, até porque a Argentina irá empobrecer a partir de 1950, quando sofreu o impacto do desmonte do Império Britânico, o que a levou a perder um vasto mercado consumidor dos seus principais produtos de exportação (trigo e carne, em especial).
4) 'A Argentina era então um dos países mais ricos do mundo em reservas cambiais, supriu os exércitos aliados de carne e outros alimentos e se entupiu de dólares'.
Meus Comentários!
A Argentina foi um país rico entre 1880-1950, o que foi possível, essencialmente, exportando alimentos (trigo, carne) e couro para o Império Britânico, que era o maior e mais rico do mundo no período. Era o ‘Império onde o Sol nunca se punha’. A elite Argentina atrelou a economia do país à do Império Britânico e enriqueceu com isso, mas isso a levou a estruturar a sua economia de forma subalterna e dependente em relação à economia do Império Britânico.
Assim, não foi à toa que a decadência da Argentina começou, ao mesmo tempo, em que tivemos a decadência e desmonte do Império Britânico no Pós-Guerra. Além disso, outros países passaram a competir com a Argentina, passando a exportar os mesmos produtos dos Hermanos.
E com isso ocorreu uma forte queda de preços dos produtos básicos (incluindo trigo e carne) no mercado internacional, quando comparados com os produtos industrializados, o que também contribuiu para o empobrecimento da Argentina no Pós-Guerra.
5) “O Peronismo é um fenômeno político próprio, exclusivo e específico, muito anterior e muito mais sólido do que o bolivarianismo, com o qual não tem nenhum parentesco. A base social da Argentina é CLASSE MÉDIA, o nível educacional é alto, Buenos Aires tem 600 livrarias, mais que todo o Brasil”.
Meus Comentários!
A base social do Peronismo nunca foi a classe média, que sempre o desprezou, apoiando todos os Golpes de Estado contra as vitórias eleitorais de Perón e de candidatos peronistas.
A base social de Perón e dos peronistas sempre foi a classe operária e os pobres (os ‘descamisados’). E foram estes que se manifestaram em Outubro de 1945, em Buenos Aires, e libertaram Perón, que havia sido preso em função de um Golpe de Estado, e que o elegeram Presidente da República em 1946 e, depois, o reelegeram em 1952.
E também é bom não confundir: Uma coisa é a cidade de Buenos Aires, que conta com uma população majoritariamente de classe média, e onde a oposição ao Peronismo é hegemônica ainda nos dias atuais. Aliás, muitos desses moradores de Buenos Aires são bastante preconceituosos em relação aos trabalhadores pobres peronistas, aos quais se referem como ‘cabecitas negras’.
E outra coisa, totalmente diferente, é a província de Buenos Aires, que é formada por cidades onde vivem os pobres e os operários, os ‘descamisados’ peronistas.
Os resultados das PASO mostraram isso, com o candidato macrista (Larreta) vencendo com folga na cidade de Buenos Aires, e com o candidato kirchnerista (Axel Kicillof) vencendo com mais folga ainda na província de Buenos Aires, na qual derrotou com facilidade a atual governadora, a macrista Maria Eugenia Vidal (52% X 34%).
Além disso, quando era um país rico, os governos da Argentina fizeram investimentos significativos em saúde, educação, moradia e saneamento básico.
Assim, enquanto no Brasil apenas 66% da população tem acesso a Saneamento Básico (o acesso à rede de esgoto não está disponível para 100 milhões de pessoas), na Argentina esse percentual ultrapassa os 97%.
Aliás, o governo de Perón fez muitos e significativos investimentos nestes setores, o que é outra razão para a elevada popularidade do Peronismo em pleno 2019.
6) "Os argentinos pouco emigram e quando o fazem é basicamente para a Europa... Nas 11 crises econômicas argentinas dos últimos 50 anos, NÃO se conhece emigração para o Brasil em nenhuma escala, há poucos argentinos no Brasil".
Meus Comentários!
Correto.
A Argentina, apesar de todas as suas crises, ainda possui uma Renda per Capita de US$ 10 mil anuais, contra US$ 11 mil anuais do Brasil. Logo, não há muita diferença entre os dois países que pudesse levar a uma emigração em massa de argentinos em direção ao Brasil. Em épocas de paz as emigrações em massa ocorrem de um país pobre para outro que é muito mais rico e não de um país de renda média/baixa para outro que também é de renda média/baixa.
Até porque, atualmente, a economia brasileira está sem crescer desde 2015 e a taxa de desemprego do Brasil (em torno de 17%) é muito superior à da Argentina (10,1%). O atual PIB brasileiro está em um patamar inferior ao do ano de 2012. E com a atual política Neoliberal Ultrarradical, altamente recessiva, que vigora no Brasil, as chances do país permanecer em Recessão até 2022 são uma certeza absoluta.
Daí o fato dos argentinos possuírem uma preferência de ir morar na Espanha ou em outros países europeus, que são muito mais ricos do que o Brasil e com os quais eles possuem uma história e uma cultura muito mais próximas daquelas que temos na Argentina, que é um país que foi colônia da Espanha e onde grande parte da população tem origem italiana.
Links:
Perón e o Peronismo:
Brasil: 100 milhões de pessoas (47,6%) não tem acesso à rede de esgoto e 35 milhões não tem acesso à água potável:
Cristina Kirchner e Alberto Fernández. Ela abriu mão da candidatura presidencial para apoiar Fernández, que foi chefe de Gabinete nos governos de Nestor e Cristina Kirchner. |
Eu li um texto na internet a respeito da história de Juan D. Perón, do
Peronismo e do Kirchnerismo e na qual constam uma série de informações
incompletas ou equivocadas. E são tais afirmações que irei comentar neste
texto.
1) 'Perón era simpatizante do Nazifascismo, absolutamente nada a ver com
Esquerda'!
Meus Comentários!
Meus Comentários!
O Peronismo ainda é o movimento político mais forte e mais popular da
Argentina, mesmo depois de mais de 40 anos após a morte de Juan Domingo Perón.
E tal movimento reúne simpatizantes de várias tendências políticas e
ideológicas, de Centro, Direita e de Esquerda.
Desta maneira, por exemplo, o movimento dos Montoneros, que foi um dos
mais poderosos e populares movimentos guerrilheiros da América Latina na década
de 1970, era de Esquerda e Peronista, ao mesmo tempo.
Aliás, essa fragmentação política e ideológica é que torna muito difícil promover a unificação do Peronismo, bem como torna muito difícil se produzir um consenso para definir o mesmo.
Carlos Menem, por exemplo, é tão direitista e neoliberal quanto Mauricio Macri, e sempre foi um peronista, membro do Partido Justicialista, o mesmo de Nestor e Cristina Kirchner, pelo qual foi Presidente da Argentina entre 1989 e 1999.
Aliás, Menem ainda é senador eleito pela província de La Rioja, da qual foi governador antes de se eleger Presidente em 1989.
Enquanto isso, o Kirchnerismo é uma das principais e também é, atualmente, a mais forte tendência do movimento Peronista. O Kirchnerismo defende políticas que podem muito bem ser definidas como sendo de Centro-Esquerda, de tendência claramente Social-Democrata, fazendo a defesa da intervenção do Estado na economia e na área social para se promover o desenvolvimento econômico e a justiça social.
Porém, existem lideranças importantes do Peronismo que não fazem parte
do grupo Kirchnerista e que resistiam a apoiar a candidatura presidencial de
Cristina Kirchner nestas eleições, o que foi percebido por ela, que chegou à
conclusão de que não deveria ser a candidata do Peronismo à Presidência da
República.
Desta maneira, Cristina Kirchner desistiu da candidatura presidencial em favor de Alberto Fernández justamente porque percebeu que a sua candidatura não iria conseguir unificar o Peronismo, o que diminuiria as chances de derrotar Macri, e que a candidatura de Alberto Fernández era a única capaz de promover essa unificação, o que acabou acontecendo.
Aliás, é bom ressaltar que Alberto Fernández tem antigas ligações com o Kirchnerismo, tendo sido chefe de Gabinete dos governos de Nestor e Cristina Kircher. Portanto, Cristina Kirchner, que foi eleita Senadora pela província de Buenos Aires em 2017, abriu mão da sua candidatura em favor de um candidato peronista e kirchnerista, com o objetivo de unificar o Peronismo, o que foi alcançado.
Cristina fez isso porque sabe que sem essa unidade dos peronistas as chances de derrotar Macri seriam muito menores. Assim, ela abriu da candidatura presidencial e, com isso, os peronistas se unificaram em torno da candidatura de Alberto Fernández.
E foi justamente essa unidade do Peronismo que tornou possível a vitória folgada de Fernández nas PASO, com uma vantagem de 15 p.p., que não foi prevista por nenhuma pesquisa.
Além disso, os Kirchneristas colheram outra monumental vitória na eleição para a província de Buenos Aires, na qual Axel Kicillof (que é considerado o principal herdeiro dos Kirchners) derrotou com folga a candidata macrista Maria E. Vidal (52% X 34%).
Portanto, é um grave erro de análise dizer que, em função de Perón ter sido simpatizante do nazifascismo, que o Peronismo é um movimento político exclusivamente de Direita. Não é. Nunca foi. E também é errado dizer que não existem elementos progressistas (de Esquerda ou de Centro-Esquerda) dentro do Peronismo.
Até porque, e diferente de Mussolini ou de Hitler, Perón chegou ao poder depois de ter vencido eleições diretas para Presidente (Hitler tentou o mesmo, em 1932, mas foi derrotado por Hindenburg), o que aconteceu em 1946, passando a governar o país entre Junho de 1946 e Junho de 1952. Depois ele foi reeleito e governou até Setembro de 1955, quando foi derrubado por meio de um Golpe de Estado. Então, Perón chegou ao poder por vias eleitorais e democráticas.
Além disso, Perón não foi o único governante sul-americano que simpatizou com o Nazifascismo em um determinado momento da sua história. O marechal Dutra, que foi presidente do Brasil entre 1945 e 1950, também foi simpatizante do Nazifascismo.
2) “Peron foi o carismático fundador do movimento político Justicialista
e Presidente da Argentina em dois períodos”!
Meus Comentários!Aliás, essa fragmentação política e ideológica é que torna muito difícil promover a unificação do Peronismo, bem como torna muito difícil se produzir um consenso para definir o mesmo.
Carlos Menem, por exemplo, é tão direitista e neoliberal quanto Mauricio Macri, e sempre foi um peronista, membro do Partido Justicialista, o mesmo de Nestor e Cristina Kirchner, pelo qual foi Presidente da Argentina entre 1989 e 1999.
Aliás, Menem ainda é senador eleito pela província de La Rioja, da qual foi governador antes de se eleger Presidente em 1989.
Enquanto isso, o Kirchnerismo é uma das principais e também é, atualmente, a mais forte tendência do movimento Peronista. O Kirchnerismo defende políticas que podem muito bem ser definidas como sendo de Centro-Esquerda, de tendência claramente Social-Democrata, fazendo a defesa da intervenção do Estado na economia e na área social para se promover o desenvolvimento econômico e a justiça social.
O Kirchnerismo também possui, tal como o Peronismo, um nítido caráter
nacionalista, mas sem ser xenófobo, tanto que defende a integração por meio do
Mercosul, bem como atua inteiramente dentro das regras do jogo democrático.
Logo, o Kirchnerismo representa uma ala reformista, nacionalista e
democrática do Peronismo.
Assim, Nestor Kirchner foi eleito Presidente e governou o país entre
2003 e 2007, sendo que foi sucedido no cargo por sua esposa, e então Senadora,
Cristina Kirchner, que foi eleita em 2007 e reeleita em 2011, governando o país
até Dezembro de 2015. Portanto, o Kirchnerismo governou o país entre 2003/2015, dentro das
regras democráticas, no mesmo período em que Lula e Dilma governaram o Brasil,
sendo que eles são aliados até os dias atuais.
Desta maneira, Cristina Kirchner desistiu da candidatura presidencial em favor de Alberto Fernández justamente porque percebeu que a sua candidatura não iria conseguir unificar o Peronismo, o que diminuiria as chances de derrotar Macri, e que a candidatura de Alberto Fernández era a única capaz de promover essa unificação, o que acabou acontecendo.
Aliás, é bom ressaltar que Alberto Fernández tem antigas ligações com o Kirchnerismo, tendo sido chefe de Gabinete dos governos de Nestor e Cristina Kircher. Portanto, Cristina Kirchner, que foi eleita Senadora pela província de Buenos Aires em 2017, abriu mão da sua candidatura em favor de um candidato peronista e kirchnerista, com o objetivo de unificar o Peronismo, o que foi alcançado.
Cristina fez isso porque sabe que sem essa unidade dos peronistas as chances de derrotar Macri seriam muito menores. Assim, ela abriu da candidatura presidencial e, com isso, os peronistas se unificaram em torno da candidatura de Alberto Fernández.
E foi justamente essa unidade do Peronismo que tornou possível a vitória folgada de Fernández nas PASO, com uma vantagem de 15 p.p., que não foi prevista por nenhuma pesquisa.
Além disso, os Kirchneristas colheram outra monumental vitória na eleição para a província de Buenos Aires, na qual Axel Kicillof (que é considerado o principal herdeiro dos Kirchners) derrotou com folga a candidata macrista Maria E. Vidal (52% X 34%).
Portanto, é um grave erro de análise dizer que, em função de Perón ter sido simpatizante do nazifascismo, que o Peronismo é um movimento político exclusivamente de Direita. Não é. Nunca foi. E também é errado dizer que não existem elementos progressistas (de Esquerda ou de Centro-Esquerda) dentro do Peronismo.
Até porque, e diferente de Mussolini ou de Hitler, Perón chegou ao poder depois de ter vencido eleições diretas para Presidente (Hitler tentou o mesmo, em 1932, mas foi derrotado por Hindenburg), o que aconteceu em 1946, passando a governar o país entre Junho de 1946 e Junho de 1952. Depois ele foi reeleito e governou até Setembro de 1955, quando foi derrubado por meio de um Golpe de Estado. Então, Perón chegou ao poder por vias eleitorais e democráticas.
Além disso, Perón não foi o único governante sul-americano que simpatizou com o Nazifascismo em um determinado momento da sua história. O marechal Dutra, que foi presidente do Brasil entre 1945 e 1950, também foi simpatizante do Nazifascismo.
Sergio Massa, Máximo Kirchner (filho de Nestor e Cristina), Alberto Fernández e Axel Kicillof festejam a vitória nas eleições primárias.
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A imensa popularidade de Juan D. Perón, principalmente entre a classe operária e os pobres, não se deve apenas em função do seu 'carisma', mas também pelo fato de que tomou uma série de medidas que beneficiaram aos trabalhadores argentinos, tal como Vargas fez no Brasil, criando uma vasta legislação social, trabalhista e previdenciária.
Seu governo também reconheceu o direito de voto para as mulheres e ampliou de maneira significativa o acesso da população a serviços de saúde, educação e de saneamento básico.
É bom lembrar, também, que o Nazifascismo teve muitos simpatizantes pelo mundo afora, e não apenas na Argentina, mas depois da revelação dos crimes e atrocidades que foram cometidas por Hitler e Mussolini, e que foram reveladas após o fim da Guerra, muitos fizeram questão de esquecer disso.
Entre estes simpatizantes de Hitler pelo mundo, nós tivemos o Rei Jorge VIII da Grã-Bretanha (que foi obrigado a abdicar do trono em função disso), Henry Ford (autor de um livro antissemita que influenciou Hitler, que o cita no 'Mein Kampf') e Charles Lindbergh, líder do movimento nazista dos EUA (chamado 'America First') que promoveu imensas manifestações que lotaram o Madison Square Garden em defesa da Alemanha Nazista.
O movimento ‘America First’ defendia que os EUA ficassem de fora da Guerra, com o objetivo de facilitar a vitória da Alemanha Nazista, mas chegou ao fim depois do ataque japonês à Pearl Harbor e da declaração de guerra de Hitler contra os EUA em Dezembro de 1941.
Na França, durante o governo da Frente Popular (1936-1938), que reunia as forças de Esquerda do país (socialistas, radicais e comunistas), o lema da Direita francesa no período foi 'Antes Hitler, do que a Frente Popular'. E o principal líder da Extrema-Direita francesa (François de la Rocque, líder do Partido Social Francês), caminhava para vencer a eleição nacional que iria se realizar em 1940, mas a invasão alemã impediu que a eleição acontecesse.
E durante a ocupação nazista da França, a maior parte dos franceses colaborou com os invasores alemães. A Resistência, de fato, foi obra de uma pequena minoria e somente se tornou relevante nos primeiros meses de 1944, pouco antes dos Aliados invadirem a França e expulsarem os nazistas.
Cristina Kirchner é ovacionada por dezenas de milhares de pessoas que lotaram o estádio do Racing durante a campanha dela ao Senado, em 2017, quando se elegeu pela província de Buenos Aires. |
No Brasil, a maior parte dos integrantes do governo ditatorial do 'Estado Novo' (1937-1945) também era constituído de simpatizantes do Nazifascismo e, até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha Nazista era o maior parceiro comercial do Brasil. E muitos líderes políticos brasileiros que se diziam liberais também chegaram a elogiar Hitler e Mussolini.
E a "Ação Integralista Brasileira", movimento político de características inteiramente nazifascistas, chegou a ser o maior movimento de massas da história brasileira até metade do século XX, atraindo uma grande parte da intelectualidade e da classe média brasileiras, sendo que Plínio Salgado foi o seu principal líder. Em Maio de 1938, apoiado e financiado pelo regime nazista, os Integralistas tentaram derrubar o governo de Vargas por meio de um Golpe de Estado, mas que acabou fracassando.
Na época, os EUA tiveram que promover fortes pressões sobre o governo brasileiro (como a ameaça de invadir e ocupar o Nordeste brasileiro) e aceitar fazer concessões relevantes para o Brasil a fim de que o mesmo entrasse na Guerra ao seu lado, contra o Eixo,, embora a afinidade ideológica entre os Conservadores Autoritários que davam sustentação intelectual à ditadura direitista do 'Estado Novo' fosse muito maior com o Nazifascismo.
Assim, os EUA forneceram capital e tecnologia para que o governo brasileiro pudesse construir a CSN e criar a Vale do Rio Doce, o que começou já em 1942, e daí conseguiram convencer o Brasil a lutar ao lado dos Aliados na Guerra.
E o Papa Pio XII (1939-1958) também evitou de denunciar a existência dos campos de extermínio nazistas na Europa, embora a Igreja Católica tivesse amplo conhecimento dos mesmos, pois entendia que a prioridade para a Igreja Católica era derrotar a URSS e não o Nazifascismo.
Aliás, a Igreja Católica foi essencial para que Mussolini pudesse governar a Itália entre Novembro de 1922 e Julho de 1943. Sem este apoio, o regime fascista não teria durado por tanto tempo.
Nestor e Cristina Kirchner ao lado de Alberto Fernández. |
3) 'Perón apoiou a Ditadura de Franco na Espanha, que os EUA impediram de entrar na ONU’!
Meus Comentários!
No Pós-Guerra, a Espanha Franquista continuou sendo uma ditadura de Direita Tradicional e profundamente Reacionária, que contava com o apoio da Igreja Católica, dos Latifundiários, dos Monarquistas e do Exército. Aliás, a Espanha Franquista foi a mais brutal, repressiva e sanguinária Ditadura europeia do Pós-Guerra, pois Franco continuou perseguindo e eliminando todos aqueles que lutaram e defenderam os Republicanos durante a Guerra Civil (1936-1939).
Franco tinha apoiado a Alemanha Nazista e a Itália Fascista na Segunda Guerra Mundial. E Franco somente venceu a Guerra Civil porque contou com o apoio decisivo da Alemanha Nazista (vide a 'Legião Condor' alemã que destruiu a cidade basca de Guernica em Abril de 1937) e da Itália Fascista (Mussolini enviou 70 mil 'voluntários' para lutar ao lado das forças franquistas na Guerra Civil entre 1936-1939).
Além disso, Franco também contou com o forte e decisivo apoio do governo do Partido Conservador na Grã-Bretanha, que vetou a ajuda internacional ao governo Republicano espanhol em nome de uma inexistente 'neutralidade' da comunidade internacional.
E o governo britânico fez isso mesmo sabendo que o governo Republicano espanhol havia sido eleito democraticamente e que as forças Franquistas tentaram derrubar este governo eleito pelo povo por meio de um Golpe de Estado, que acabou fracassando, o que deu início à Guerra Civil Espanhola, que devastou o país e no qual morreram cerca de 500 mil pessoas.
E as forças Franquistas também receberam um significativo apoio dos EUA. Assim, a Ford e a GM forneceram milhares de veículos para as forças franquistas e as petroleiras dos EUA forneceram grande quantidade de combustíveis para as tropas lideradas pelo brutal e sanguinário Franco.
E mesmo assim alguns milhares de Republicanos espanhóis lutaram sob o comando das forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial, justamente porque acreditavam que, após derrotar as ditaduras de Hitler e Mussolini, os EUA e a Grã-Bretanha iriam continuar a guerra e também derrubariam a Ditadura Reacionária de Franco, mas isso não aconteceu, frustrando aos Republicanos da terra de García Lorca, poeta que foi assassinado pelos franquistas em 18/08/1936.
E no Pós-Guerra, mesmo depois de ter contado com esse apoio dos Republicanos, o governo dos EUA assinaram, em 1953, um amplo acordo com a Ditadura Franquista, o que permitiu à Espanha Franquista continuar existindo mesmo depois da derrota da Alemanha Nazista e da Itália Fascista na Segunda Guerra Mundial, de quem foi aliada durante a Guerra.
Esse acordo de 1953 abriu a economia da Espanha para investimentos dos EUA, e de outros países capitalistas, e fez a Ditadura Franquista se tornar aliada do bloco Capitalista na Guerra Fria contra a URSS e o Bloco Soviético.
Portanto, foram os EUA que permitiram que a Ditadura Franquista sobrevivesse no Pós-Guerra e não o governo democraticamente eleito de Juan D. Perón, até porque a Argentina irá empobrecer a partir de 1950, quando sofreu o impacto do desmonte do Império Britânico, o que a levou a perder um vasto mercado consumidor dos seus principais produtos de exportação (trigo e carne, em especial).
4) 'A Argentina era então um dos países mais ricos do mundo em reservas cambiais, supriu os exércitos aliados de carne e outros alimentos e se entupiu de dólares'.
Meus Comentários!
A Argentina foi um país rico entre 1880-1950, o que foi possível, essencialmente, exportando alimentos (trigo, carne) e couro para o Império Britânico, que era o maior e mais rico do mundo no período. Era o ‘Império onde o Sol nunca se punha’. A elite Argentina atrelou a economia do país à do Império Britânico e enriqueceu com isso, mas isso a levou a estruturar a sua economia de forma subalterna e dependente em relação à economia do Império Britânico.
Assim, não foi à toa que a decadência da Argentina começou, ao mesmo tempo, em que tivemos a decadência e desmonte do Império Britânico no Pós-Guerra. Além disso, outros países passaram a competir com a Argentina, passando a exportar os mesmos produtos dos Hermanos.
E com isso ocorreu uma forte queda de preços dos produtos básicos (incluindo trigo e carne) no mercado internacional, quando comparados com os produtos industrializados, o que também contribuiu para o empobrecimento da Argentina no Pós-Guerra.
5) “O Peronismo é um fenômeno político próprio, exclusivo e específico, muito anterior e muito mais sólido do que o bolivarianismo, com o qual não tem nenhum parentesco. A base social da Argentina é CLASSE MÉDIA, o nível educacional é alto, Buenos Aires tem 600 livrarias, mais que todo o Brasil”.
Meus Comentários!
A base social do Peronismo nunca foi a classe média, que sempre o desprezou, apoiando todos os Golpes de Estado contra as vitórias eleitorais de Perón e de candidatos peronistas.
A base social de Perón e dos peronistas sempre foi a classe operária e os pobres (os ‘descamisados’). E foram estes que se manifestaram em Outubro de 1945, em Buenos Aires, e libertaram Perón, que havia sido preso em função de um Golpe de Estado, e que o elegeram Presidente da República em 1946 e, depois, o reelegeram em 1952.
E também é bom não confundir: Uma coisa é a cidade de Buenos Aires, que conta com uma população majoritariamente de classe média, e onde a oposição ao Peronismo é hegemônica ainda nos dias atuais. Aliás, muitos desses moradores de Buenos Aires são bastante preconceituosos em relação aos trabalhadores pobres peronistas, aos quais se referem como ‘cabecitas negras’.
E outra coisa, totalmente diferente, é a província de Buenos Aires, que é formada por cidades onde vivem os pobres e os operários, os ‘descamisados’ peronistas.
Os resultados das PASO mostraram isso, com o candidato macrista (Larreta) vencendo com folga na cidade de Buenos Aires, e com o candidato kirchnerista (Axel Kicillof) vencendo com mais folga ainda na província de Buenos Aires, na qual derrotou com facilidade a atual governadora, a macrista Maria Eugenia Vidal (52% X 34%).
Além disso, quando era um país rico, os governos da Argentina fizeram investimentos significativos em saúde, educação, moradia e saneamento básico.
Assim, enquanto no Brasil apenas 66% da população tem acesso a Saneamento Básico (o acesso à rede de esgoto não está disponível para 100 milhões de pessoas), na Argentina esse percentual ultrapassa os 97%.
Aliás, o governo de Perón fez muitos e significativos investimentos nestes setores, o que é outra razão para a elevada popularidade do Peronismo em pleno 2019.
6) "Os argentinos pouco emigram e quando o fazem é basicamente para a Europa... Nas 11 crises econômicas argentinas dos últimos 50 anos, NÃO se conhece emigração para o Brasil em nenhuma escala, há poucos argentinos no Brasil".
Meus Comentários!
Correto.
A Argentina, apesar de todas as suas crises, ainda possui uma Renda per Capita de US$ 10 mil anuais, contra US$ 11 mil anuais do Brasil. Logo, não há muita diferença entre os dois países que pudesse levar a uma emigração em massa de argentinos em direção ao Brasil. Em épocas de paz as emigrações em massa ocorrem de um país pobre para outro que é muito mais rico e não de um país de renda média/baixa para outro que também é de renda média/baixa.
Até porque, atualmente, a economia brasileira está sem crescer desde 2015 e a taxa de desemprego do Brasil (em torno de 17%) é muito superior à da Argentina (10,1%). O atual PIB brasileiro está em um patamar inferior ao do ano de 2012. E com a atual política Neoliberal Ultrarradical, altamente recessiva, que vigora no Brasil, as chances do país permanecer em Recessão até 2022 são uma certeza absoluta.
Daí o fato dos argentinos possuírem uma preferência de ir morar na Espanha ou em outros países europeus, que são muito mais ricos do que o Brasil e com os quais eles possuem uma história e uma cultura muito mais próximas daquelas que temos na Argentina, que é um país que foi colônia da Espanha e onde grande parte da população tem origem italiana.
Links:
Perón e o Peronismo:
https://jornalggn.com.br/artigos/peron-era-simpatizante-do-nazifascismo-absolutamente-nada-a-ver-com-esquerda-por-andre-motta-araujo/
Argentina: Acesso ao Saneamento Básico passa dos 97%:Alberto Fernández visitou o Presidente Lula em Curitiba e defende a libertação do ex-Presidente brasileiro. |
Brasil: 100 milhões de pessoas (47,6%) não tem acesso à rede de esgoto e 35 milhões não tem acesso à água potável:
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